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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Bate-papo" com Ratinho, na verdade, é propaganda eleitoral de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro dá entrevista a Ratinho                              -  REPRODUÇÃO DE VÍDEO/SBT
O presidente Jair Bolsonaro dá entrevista a Ratinho Imagem: REPRODUÇÃO DE VÍDEO/SBT

Colunista do UOL

13/09/2022 20h53Atualizada em 13/09/2022 21h32

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O SBT estreou na noite desta terça-feira (13) uma série intitulada "Candidatos com Ratinho", destinada a exibir entrevistas com os principais candidatos à Presidência. A série foi produzida pela área de entretenimento da emissora, não pelo jornalismo.

O SBT definiu a faixa das 20h para as entrevistas, o que torna a visibilidade da série maior do que se fosse exibida às 22h30, no horário do programa de Ratinho. Com esta decisão, o "SBT Brasil", principal telejornal da emissora, perdeu 15 minutos de duração e foi ao ar mais cedo, às 19h30.

Ratinho disse que a proposta da série seria promover "um bate-papo, uma conversa" com os candidatos. Na estreia, com o presidente Jair Bolsonaro (PL), aconteceu outra coisa. Por 30 minutos, o candidato à reeleição falou como se estivesse no horário eleitoral obrigatório, totalmente à vontade.

Ratinho não fez qualquer questionamento a Bolsonaro. Não contestou nenhuma resposta do presidente. Quase todas as suas perguntas foram "levantadas de bola" para o presidente discorrer livremente sobre o que quisesse. Por exemplo: "O senhor enfrentou uma pandemia. O que fez para ajudar o povo a enfrentar a pandemia?"

Outra: "A oposição diz que o senhor é muito pesadão. O que tem a dizer às mulheres? O que fez pelas mulheres do Brasil?" Ratinho também ajudou Bolsonaro a responder algumas perguntas. Por exemplo: "Quando a oposição fala da carestia... Não é culpa da pandemia?"

Decidido a dar uma mão a Bolsonaro em todas as perguntas, Ratinho também disse: "Vale a pena ser presidente de novo? Por que uma parte da imprensa bate tanto no senhor?" Em 2020, Ratinho já tinha reclamado em seu programa da mídia brasileira: "O presidente está resistindo bravamente a todas as armadilhas que colocam em seu caminho. Nunca vi a imprensa bater tanto num presidente como eu tenho visto", disse então.

Outra pergunta que Bolsonaro adorou responder: "Presidente, armar a população ajuda a combater o crime?" Ao falar de saúde e meio ambiente, Ratinho fez duas vezes uma pergunta muito semelhante: "Tem jeito de melhorar?"

O apresentador pediu que o presidente citasse "um erro" de seu governo: "Falo uns palavrões de vez em quando", respondeu Bolsonaro. "Michelle manda em casa?", quis saber Ratinho. Bolsonaro disse que sim. "No seu próximo governo, caso vença, tem como baixar o preço da comida?"

Enfim, por mais boa vontade que se tenha, não dá para chamar isso de entrevista, conversa ou bate-papo. Ratinho deu a impressão de estar fazendo o papel de âncora do programa eleitoral de Bolsonaro.

Segundo o SBT, Ciro Gomes (PDT) vai participar do programa na próxima segunda-feira, 19 de setembro, e Simone Tebet (MDB), na terça-feira, 20 de setembro. A emissora informou que, até o momento, o ex-presidente Lula (PT) ainda não confirmou presença. O SBT relatou que as datas foram escolhidas com as assessorias dos próprios candidatos, de acordo com suas agendas.

Políticos à vontade

Ratinho sempre tratou políticos a pão de ló em seu programa. Em 2012, após receber Lula, escrevi: "Ratinho tratou Lula não com a educação e o respeito que merece um ex-presidente, mas com a reverência que se dedica aos santos. Parecia estar contemplando uma figura divina, intocável, não um político de carne e osso, no pleno exercício de promoção eleitoral".

Mas o tratamento ao governo Bolsonaro tem sido especial. Ainda em 2019, o apresentador foi um dos contemplados com contratos para fazer propaganda oficial em seu programa. Ao longo destes quatro anos, Ratinho tem sido muito receptivo ao governo. Vários ministros, entre os quais o então "herói" (palavras do apresentador) Sérgio Moro, filhos do presidente e o próprio Bolsonaro já foram defendidos com entusiasmo pelo apresentador e deram entrevistas camaradas.

No primeiro semestre deste ano, Ratinho voltou a usar o seu programa para dar uma mão ao presidente Bolsonaro. Ele convidou o economista Pablo Spyer, apresentador da TV Jovem Pan, para falar sobre o preço da gasolina — um tema de programa jornalístico, não de entretenimento. Spyer repetiu o discurso governamental sobre o assunto, realçando que se trata de um problema global, e não apenas brasileiro. O economista também falou de corrupção na Petrobras no governo de Dilma Rousseff (PT).