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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Maioria das TVs abertas não se mostra à altura de dia histórico no Brasil

A partir do meio da tarde, a Globo ficou ao vivo exibindo a cobertura da GloboNews sobre a tentativa de golpe de Estado - Reprodução/Globoplay
A partir do meio da tarde, a Globo ficou ao vivo exibindo a cobertura da GloboNews sobre a tentativa de golpe de Estado Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista do UOL

09/01/2023 00h06Atualizada em 09/01/2023 16h16

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Com exceção da Globo e da Band, as principais emissoras de TV aberta não se mostraram à altura da gravidade dos acontecimentos ocorridos neste domingo que entrará para a história do Brasil.

A tentativa de golpe de Estado, praticada por bolsonaristas no dia 8 de janeiro de 2023, não mereceu cobertura especial em emissoras da importância da Record e do SBT.

Também não houve cobertura à altura da TV Cultura, emissora pública ligada ao governo de São Paulo, e muito menos da RedeTV!, o canal que aderiu com mais entusiasmo ao bolsonarismo nos quatro anos passados. Esta última mostrou ao vivo a fala do presidente Lula e trechos de comunicação do ministro da Justiça - muito pouco para o que ocorreu no dia.

A Record chegou a levar ao ar alguns boletins no meio de sua programação vespertina, mas evitou se aprofundar. Apesar de contar com grande equipe de jornalismo e exibir um programa ao vivo à noite, o "Domingo Espetacular", a emissora fez um trabalho protocolar. A cobertura dos atos de terrorismo ocupou cerca de 20 minutos do dominical, distribuída em pequenas matérias em diferentes blocos.

O SBT também exibiu alguns boletins extraordinários, mas nada além disso. Se nem uma tentativa de golpe de Estado é capaz de mudar a programação, o que será capaz de mexer com a grade da emissora de Silvio Santos?

A Band merece o crédito de ter sido o primeiro canal de TV aberta a entrar ao vivo com informações sobre a invasão do Congresso. Chegou a ficar cerca de 20 minutos ao vivo, no meio da tarde, com informações a respeito.

Posteriormente, sob o comando de José Luiz Datena, trouxe mais informações e uma entrevista exclusiva com Alberto Fernández, presidente da Argentina. À noite, também, interrompeu várias vezes a programação normal no esforço de trazer análises e reportagens em tom crítico sobre os atos de vandalismo e destruição em Brasília.

A Globo, curiosamente, demorou cerca de 90 minutos, depois da divulgação das primeiras informações, para entrar, às 16h20, com um boletim ao vivo sobre a tentativa de golpe de Estado. Foi uma demora que causou estranhamento entre os profissionais que acompanham o jornalismo da emissora.

Só às 17h20, a emissora passou a transmitir ao vivo, sem interrupção, os acontecimentos. Mas fez isso de forma pouco usual, reproduzindo a programação da GloboNews. Foi, tudo indica, uma solução de emergência, num domingo, aproveitando a estrutura do seu canal na TV por assinatura, para colocar o noticiário quente na tela à disposição de um público maior.

A partir daí, a cobertura da Globo reinou na TV aberta. A emissora derrubou grande parte de sua programação, incluindo o "Domingão com Huck" e a maior parte das pautas do "Fantástico" para focar, basicamente, em Brasília. Foi uma cobertura extensiva e sem eufemismos, dando a dimensão do que ocorreu.

A Globo logo usou termos como "terroristas" e "golpistas" para caracterizar os participantes da tentativa de golpe de Estado. Suas concorrentes, na TV aberta e na TV por assinatura, demoraram para tomar posição ou não fizeram isso (veja aqui). "Não passarão", disse Poliana Abrita no encerramento do dominical.

TVs abertas são concessões públicas, com deveres e responsabilidades estabelecidas pela Constituição. Ao se omitirem num dia histórico, colocam a sua credibilidade em questão.