Raquel Landim

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PF contesta versão de que Rivaldo teria feito "devassa" na vida dos Brazão

Investigadores da Polícia Federal encarregados do caso Marielle contestam a versão da defesa de Rivaldo Barbosa de que a Polícia Civil do Rio de Janeiro teria feito uma "devassa" na vida dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e que esses dados teriam sido ignorados.

Um delegado ouvido pela coluna chega a ironizar e diz que "se eu fosse criminoso, queria essa devassa na minha vida".

Na defesa preliminar entregue ao Supremo Tribunal Federal, os advogados de Rivaldo dizem que a PF ignorou em seu relatório final sobre o caso "interceptações telefônicas, quebra de sigilo de dados telemáticos, intercepção ambiental e busca e apreensão".

Fontes da PF explicam que, no início das investigações, o delegado Geniton Lages realmente pediu a quebra do sigilo telemático de Chiquinho Brazão, que na época era vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Só que o pedido foi feito junto com diversos outros vereadores da chamada "bancada da bala" na Câmara e apenas do celular oficial de Chiquinho. Delegados explicam que criminosos costumam ter vários aparelhos e utilizar apenas aqueles menos conhecidos.

Além disso, não foi produzido nenhum relatório com base naquela medida cautelar. Uma primeira análise só é feita pela Polícia Civil do Rio de Janeiro tempos depois quando Geniton não está mais a frente do caso.

Rivaldo Barbosa, que ocupava a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, é acusado de ajudar a planejar o assassinato de Marielle Franco junto com os irmãos Brazão. Para obstruir a investigação, a suspeita da PF que Rivaldo contou com a colaboração do Geniton, que ele mesmo promoveu a chefia da divisão de homicídios e de quem é amigo próximo.

Os advogados de Rivaldo argumentam que não existem provas que o liguem ao assassinato além da delação do executor de Marielle, Ronnie Lessa. O miliciano contou à PF sobre o envolvimento dos Brazão e de Rivaldo em troca de transferência de presídio e redução da pena.

O objetivo da defesa é livrar Rivaldo da acusação de homicídio, embora ainda pesariam as de obstrução de Justiça e lavagem de dinheiro. Ele está preso desde o dia 9 de maio, quando o governo anunciou que havia encontrado os mandantes da morte de Marielle. Rivaldo teve que suplicar ao ministro Alexandre de Moraes em um bilhete para ser ouvido pela PF.

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Segundo os delegados federais, a "digital" de Rivaldo aparece na nomeação de Geniton no dia do crime, já que ele não teria tempo hábil para planejar a obstrução se não tivesse conhecimento prévio do ocorreu. A PF também configurou o histórico de obstruções das investigações, que demoraram sete anos para serem concluídas. E incluiu ainda provas do aumento súbito do patrimônio de Rivaldo e sua mulher depois que ele assumiu a chefia de homicídios e posteriormente da Polícia Civil do Rio.

Por causa do lapso temporal, a PF não encontrou evidências de reuniões entre os Brazão e Rivaldo como Lessa relata em sua delação. No dia da operação que prendeu os alvos, foi apreendido um celular de Geniton, mas ele não entregou a senha. A polícia ainda trabalha na quebra do segredo desse aparelho.

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