Raquel Landim

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Opinião

Marçal e Marina Helena fazem dobradinha em busca de extremistas da direita

Foi um momento de troca de gentilezas entre dois candidatos que dedicaram praticamente todo o tempo que tinham no debate promovido por Estadão/Terra e Faap a atacar os adversários.

Pablo Marçal, do PRTB, disse que Marina Helena, do Novo, era a mais preparada para assumir a Prefeitura de São Paulo - uma declaração que soa um pouco estranha já que ele também é candidato.

Marina Helena agradeceu o elogio sem nenhuma modéstia. "Sou mesmo", afirmou. E emendou: "Quando for fazer o M de Marçal, faz o M de Marina", utilizando o slogan do colega.

Segundo ela, fora os dois, todos os outros postulantes que estavam ali eram o "sistema".

É exatamente a mesma retórica utilizada por Jair Bolsonaro antes de sentar na cadeira de presidente da República e precisar do Centrão para governar.

Marçal e Marina Helena também usam as mesmas estratégias do bolsonarismo raiz: lacração em rede social, tudo pelo "corte", propostas vazias desde que possuam frases de efeito.

Na disputa que se formou pelo espólio de Bolsonaro, coube a Ricardo Nunes (MDB), o candidato que tem o apoio formal do ex-presidente, o papel de moderado.

Nunes fica assim muito mais parecido com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também o apoia, do que com o ex-presidente.

Vale aqui também um pequeno adendo.

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Contrariando as expectativas da campanha de reeleição do prefeito, que esperava alguma ajuda de Marina Helena, a candidata do Novo acusou Nunes de promover "ideologia de gênero" nas escolas de São Paulo - uma evidente mentira.

Marina Helena hoje é um exemplo da captura do projeto do Novo pelo bolsonarismo.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, se aproximou muito do ex-presidente, mas ainda tenta manter as aparências. Já a candidata não disfarça. E alguns devem se recordar que o Novo nasceu com a ideia de trazer um respiro para a política.

E enquanto os candidatos da direita não poupavam Nunes para tentar tirá-lo do segundo turno, ficou evidente o pacto de não agressão entre Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB).

Com a metralhadora de Marçal e Marina Helena girando, Boulos abandonou a postura serena do debate da TV Bandeirantes e partiu para o ataque.

O candidato do PSOL parecia sem paciência depois de apanhar por dias de Marçal nas redes com a acusação, sem qualquer prova, de cheirar cocaína. O problema para Boulos é que sua rejeição é alta e toda a estratégia de sua campanha é evitar que ele caía em provocações.

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O momento mais agressivo do debate foi quando Boulos cobrou de Marçal a promessa de deixar a disputa se viesse a público suas condenações por envolvimento com uma quadrilha de fraude a bancos. Marçal chamou Boulos de "PT kids" e disse que ele "deveria pedir música no Fantástico por ter três condenações".

Boulos então acusa Marçal de ser uma "caricatura" e o "padre Kelmon dessas eleições" em referência ao candidato que usava batina e era linha auxiliar de Bolsonaro nos debates presidenciais. No que Marçal revida, tira uma carteira de trabalho do bolso (o objeto, portanto, já estava ali para ser utilizado na melhor ocasião) e diz que vai exorcizar Boulos.

O bate-boca continua fora das câmeras com Boulos tentando arrancar a carteira das mãos de Marçal, que filma o candidato do PSOL. Nas redes do candidato do PRTB, tem até musiquinha: "Xô, Satanás!".

Uma várzea.

Poderíamos seguir aqui com Tabata sugerindo a Nunes o slogan do "rouba mas não faz", o direito de resposta do prefeito falando do suposto envolvimento dela com seu "tutor", o dono da "Americanas". E por aí seguiríamos por um bom tempo.

O que foi esse debate?

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Entretenimento? Há controvérsias.

De propostas para a maior cidade da América Latina, quase nada.

Pobre eleitor.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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