Caso Silvio Almeida é exemplo que agressor sexual não tem viés político
As suspeitas de assédio sexual envolvendo o ex-ministro Silvio de Almeida já vem de bastante tempo. A medida que as histórias vão se tornando conhecidas, fica claro que pode se tratar de um comportamento reiterado e tolerado.
Reportagem feita pelo UOL aponta que a Polícia Federal sabia das queixas de importunações feitas pela ministra Anielle Franco a colegas e esperava uma denúncia formal para agir. Um ex-assessor de Almeida também confirmou ao Estadão que o governo tinha conhecimento dos supostos abusos desde janeiro.
É bastante provável que a própria vítima tenha se sentido intimidada a não denunciar formalmente para não prejudicar o governo do qual fazia parte. E que para isso tolerava conviver com aquele que considerava seu agressor.
Infelizmente essa é uma situação bastante conhecida nos casos de agressão às mulheres nos quais a palavra da vítima não tem valor. E se ela estiver exagerando? E se quiser prejudicar aquele homem? E tiver algum interesse político por trás? São alguns dos pré-julgamentos aos quais as vítimas são submetidas.
É preciso que se juntem várias para que o relato de quem foi abusada tenha o mesmo peso do abusador.
Agressor sexual também não tem cor, idade e muito menos posição política. "Recebo dezenas de denúncias todos os dias e não pergunto se o criminoso votou no Lula ou no Bolsonaro", disse à coluna a promotora Gabriela Mansur, referência no combate à violência contra a mulher.
O ex-presidente Jair Bolsonaro fez do insulto às mulheres uma plataforma política de lacração nas redes sociais para agregar seguidores. Pagou o preço no mundo real ao ser rejeitado nas urnas por uma parcela do eleitorado feminino.
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu a rampa do Planalto rodeado por mulheres, negros, indígenas e outras minorias, mas escorrega em declarações machistas e seu ministério não reflete a diversidade que apregoa. Ele também reduziu a quantidade de mulheres no STF (Supremo Tribunal Federal).
Demitir rapidamente Silvio de Almeida quando a denúncia dos abusos foi formalizada é apenas o básico depois de meses de tolerância com comentários pelos corredores. Espera-se agora uma investigação ágil. Agressores sexuais não passarão —nem de direita, nem de esquerda.
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