Com medo das redes, Bolsonaro espera definição de adversário de Boulos
Jair Bolsonaro tem medo de ataques e de perder o apoio do seu público nas redes sociais. Ele considera que foi esse o canal que o elegeu presidente da República em 2018 e que é daí que vem a sua força política, já que, naquela campanha, não tinha recursos, nem suporte partidário. Já disse inúmeras vezes que deve sua vitória ao filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL).
É por isso que oscila entre Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) na eleição para a Prefeitura de São Paulo desde que o candidato do PRTB teve uma arrancada nas pesquisas e conquistou os chamados "bolsonaristas". Mesmo sem o aval formal de Bolsonaro, 50% dos seus eleitores em 2022 dizem que vão votar em Marçal, conforme o Datafolha.
Na quarta-feira, Bolsonaro se encontrou com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na sede do PL em Brasília.
Ouviu os argumentos do governador: as pesquisas apontam que só Nunes pode derrotar a esquerda no segundo turno, representada pelo candidato Guilherme Boulos (PSOL), e que Nunes teria voltado a crescer nas intenções de voto graças a sua exposição na TV e ao aumento da rejeição de Marçal.
Também acertou com Tarcísio uma série de compromissos, como se envolver mais na campanha de Nunes a partir do 7 de setembro, gravando comerciais para o candidato do MDB no rádio e na TV. Propositadamente, no entanto, o ex-presidente não se comprometeu com datas e empurrou essas definições.
Daí Bolsonaro viajou para Minas Gerais para apoiar a candidatura de Bruno Engler (PL) na capital mineira. Também vai a Contagem e a Juiz de Fora. O calendário foi acertado para que ele passe o "aniversário da facada" por lá. Seus candidatos no estado estão bem atrás nas pesquisas. Também em Minas Gerais, estão alguns dos principais apoiadores de Marçal dentro do bolsonarismo: o deputado Nikolas Ferreira (PL) e o senador Cleitinho (PL).
Nessa direita mais radical, existe a percepção desde o início da campanha de que Nunes não representa a base e os valores do bolsonarismo, porque é ligado ao centro, e que se o presidente se mantiver ao lado do prefeito vai perder seus apoiadores. Já os aliados de Tarcísio dizem que Marçal é um "oportunista" e que os valores da direita não podem ser representados por alguém que tem suspeitas de ligação com o PCC e que já foi preso por furto.
Rodeado pelos aliados mineiros e com medo de perder as redes e a base, Bolsonaro, então, volta atrás — deixando a porta aberta, claro.
Ontem o ex-presidente contrariou Tarcísio em público e disse que era muito cedo para entrar "massivamente" na campanha de Nunes e que precisava "esperar mais um pouco".
O que Bolsonaro está esperando é quem vai para o segundo turno. Daí basta escolher o adversário do candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não quer se comprometer com o que considera o melhor para a cidade de São Paulo. Provavelmente nem pensou nisso. Está preocupado apenas com o impacto da eleição paulista para a sua imagem.
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