Raquel Landim

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Opinião

Trump recebeu posse de estadista e fez discurso de candidato homofóbico

Donald Trump recebeu todo o ritual previsto para a posse de um presidente dos Estados Unidos.

A benção na catedral de St John, a recepção pelo antecessor para a cerimônia do chá - um costume que remonta aos tempos de colônia britânica.

Na chegada, Joe Biden foi simpático: "Welcome home". Traduzindo: "bem-vindo ao lar", referindo-se ao fato de ser o segundo mandato do republicano.

Na mesa do salão Oval, a carta de desejos de boa sorte que um mandatário deixa para o outro sem nunca revelar o conteúdo.

Já na cerimônia do juramento no Capitólio - o mesmo prédio que os trumpistas depredaram no dia 6 de janeiro de 2021 e onde ocorreram mortes, todos os presidentes vivos estavam lá.

Estavam lá para prestigiar a posse do 47º presidente dos Estados Unidos, para preservar a institucionalidade. E quis o povo americano que esse presidente fosse Trump.

Em entrevista ao UOL News, Carlos Gustavo Poggio, PhD em relações internacionais e professor associado de ciência política do Berea College, afirmou que rituais são importantes, porque dão legitimidade ao presidente eleito.

É através deles que simbolicamente se reconhece uma eleição e se endossa o poder.

Pois foi essa mesma legitimidade que Trump negou a Biden quatro anos atrás ao não comparecer à sua posse e ao estimular os ataques ao Capitólio.

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Essas figuras que querem ser disruptivas, mesmo quando ex-presidentes ou políticos experimentados, trazem um enorme desafio para quem preserva a democracia e representa a institucionalidade.

Trump, Javier Milei ou Jair Bolsonaro não podem se render ao "sistema" e, por isso, sua estratégia é corroer a democracia. Só se utilizam dos rituais quando se beneficiam deles.

Por isso, ali, mesmo diante de toda aquelas formalidades, Trump entregou 40 minutos de um discurso de palanque.

Nada desse papo de governar para todos os americanos.

O republicano disse que começava com ele a "era de ouro" dos Estados Unidos e distribuiu os mais variados ataques diante de um sorriso amarelo de Joe Biden e sua vice Kamala Harris.

Atacou o sistema de saúde, educação, e bradou uma censura que não existe nos Estados Unidos, para agradar seu eleitorado.

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Fez levantarem-se das cadeiras para aplaudi-lo os magnatas das big techs, recém-convertidos ao trumpismo para não pagarem o custo da regulação na Europa.

Defendeu um discurso abertamente anticientífico e homofóbico ao dizer que agora os americanos só vão poder se identificar com os gêneros masculino ou feminino, ignorando os direitos das pessoas LGTBQIA+.

Isso para, logo em seguida, na saída do recinto, esbarrar com um sorridente Tim Cook, o CEO da disruptiva Apple.

Em 2014, Tim Cook admitiu ser gay - um dos primeiros presidentes de uma grande empresa a ter coragem para tanto. Haja contradições na "conversão" dos empresários do Vale do Silício.

Trump, portanto, teve uma posse de estadista e retribuiu ao país com um discurso de candidato com pitadas de homofobia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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