Justiça condena advogado de PMs por homofobia: 'Vai ser gay na Rússia'
O advogado Celso Machado Vendramini foi condenado em segunda instância por cometer homofobia ao se dirigir a uma promotora durante um julgamento em São Paulo. O episódio ocorreu em 2019.
Ao fazer a defesa de dois policiais militares acusados de matar suspeitos de roubo e plantar armas para simular uma troca de tiros, o advogado afirmou ser "fã de Putin".
Dirigindo-se à promotora Cláudia Mac Dowell, que é lésbica, Vendramini disse não saber se ela era casada e afirmou que "na Rússia não tem passeata gay, lá não tem boi, não".
"Vai ser gay lá na Rússia para ver o que acontece. A Rússia é a democracia que eu gosto", afirmou.
"Nós precisamos de amor à pátria. Amar o Brasil. Papai, mamãe, filho usando azul, filha usando cor-de-rosa".
Ele ainda acusou a comunidade LGBT de inserir crucifixos na vagina e no ânus durante manifestações.
A promotora disse à Justiça que os comentários não tinham relação alguma com os fatos em discussão e que ele fez isso para atacá-la, citando ser a única pessoa homossexual no recinto.
Ao condenar o advogado, o desembargador Marcos Coelho Zilli, relator do processo, destacou que ele teceu diversos comentários discriminatórios e pejorativos à comunidade LGBTQIAPN+, mas que não é possível concluir que soubesse da orientação sexual da promotora.
Em razão disso, ele foi condenado por homofobia, mas não por injúria, como pedia também o Ministério Público na denúncia.
A pena dada em primeira instância foi reduzida de três anos de reclusão em regime aberto para um ano e seis meses. A punição foi substituída pela prestação de serviços comunitários pelo mesmo período. Além disso, ele terá de pagar vinte salários-mínimos para um fundo público que se dedique à defesa dos direitos da população LGBTQIAPN+.
O advogado, que ainda pode apresentar novo recurso, negou à Justiça ter cometido homofobia.
Afirmou que apenas se utilizava de técnicas de argumentação a fim de cativar os jurados (os PMs foram absolvidos na ocasião).
Ele disse ter presumido que os jurados eram pessoas conservadoras e de direita e "que citou a ideologia de esquerda e seus tentáculos, dentre os quais o movimento LGBT", para convencê-los de que os PMs muitas vezes são condenados, tendo culpa ou não, "por pressão dos adeptos da ideologia progressista", citando "políticos e a imprensa".
Disse ser a favor da família, mas que nunca atacou ou pretendeu ofender a comunidade gay e que jamais pretendeu atacar promotora.
"Não sabia que ela era lésbica", disse à Justiça.
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Quero receberSegundo ele disse à Justiça, a promotora se "vitimizou" por vingança pelo fato de ter testemunhado contra ela em um processo anterior.
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