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Ronilso Pacheco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A guerra nos ensina que a extrema-direita é bomba-relógio no mundo

9.mar.2022 - Carros e prédio de hospital destruído por ataque aéreo em meio à invasão russa da Ucrânia, em Mariupol - Serviço de imprensa da Polícia Nacional da Ucrânia/via Reuters
9.mar.2022 - Carros e prédio de hospital destruído por ataque aéreo em meio à invasão russa da Ucrânia, em Mariupol Imagem: Serviço de imprensa da Polícia Nacional da Ucrânia/via Reuters

Colunista do UOL

13/03/2022 04h00

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Com acordos de cessar-fogo descumpridos e ataques a alvos civis que incluíram uma maternidade, o presidente russo, Vladimir Putin, ao que tudo indica, não se furta de encarar acusações de genocídio na invasão à Ucrânia.

É este o fim do caminho de líderes alinhados à extrema-direita que consolidam sua trajetória à frente de um poder soberano. Nenhuma diplomacia, razoabilidade, bom senso ou diálogo são necessários. Basta o ímpeto de destruir, associado à articulação de uma narrativa moldada para sustentar a destruição.

As imagens dos feridos no ataque que deixou três mortos em uma maternidade ucraniana, segundo o governo russo, se tratam de uma "provocação encenada".

Por vezes, a ameaça de Putin foi subdimensionada, não por uma possível boa índole, mas porque uma guerra nessa proporção, empreendida por uma grande potência, era praticamente inconcebível em território europeu.

De alguma maneira, o mundo naturalizou os conflitos no Oriente Médio —notadamente entre Israel e a Palestina—, e as muitas guerras civis que se sucedem no continente africano.

Uma guerra civil na Europa não teria qualquer tratamento normalizado. Tudo que é tolerado no mundo, ainda que custe a vida de milhões de inocentes, torna-se escândalo quando acontece na Europa.

Não parecia haver condições sociais, políticas, diplomáticas, financeiras, entre tantas outras, que permitissem que uma guerra se concretizasse quando a pandemia de covid-19 volta a dar sinais de arrefecimento. Mas Putin arrastou o mundo inteiro para um passado que mostrou a força de sua presença.

Ao mesmo tempo, Putin mostrou ao mundo que a postura alinhada à extrema-direita é uma bomba-relógio armada, principalmente no Ocidente.

Como abutres sobrevoando corpos, a extrema-direita não tem projeto coletivo de país ou de sociedade. Está disposta a destruir tudo para manter a si mesma e os seus. Nós subestimamos o poder destruidor, a energia ruim, a sede de violência que a extrema-direita possui. E a democracia também a contempla com direito a alguma representação.

Curiosamente, a extrema-direita não estava representada no Parlamento ucraniano. Embora grupos e movimentos nazistas e de extrema-direita existissem e fossem atuantes no país, o Parlamento e o voto popular os mantiveram longe das instituições democráticas.

A extrema-direita conseguiu ser eleita —seja no Legislativo ou no Executivo— em grandes democracias espelhadas pelo mundo, como Brasil, Estados Unidos, França, Espanha e Chile.

Nenhum desses políticos tem o poder de Putin. Mas todos eles querem ter. Os objetivos não são muito diferentes. Nós precisamos estar atentos, ou todas e todos nós, considerados inimigos e diferentes deles, correremos o risco de morrer.