Bolsonaro e Malafaia, um teatro aberto de nacionalismo cristão e extremismo
Se em São Paulo, em fevereiro, Bolsonaro focou em discurso que girava basicamente em torno de construir uma narrativa sobre a minuta do golpe, neste domingo, no ato em Copacabana, novamente organizado pelo pastor Silas Malafaia, ele assumiu a estratégia direta de uma defesa inegociável da democracia e da liberdade de expressão.
É irrelevante a esquerda e a mídia mainstream diminuírem a relevância do ato ou focarem única e exclusivamente na quantidade de pessoas. Já passou da hora de a ideia de uma adesão e uma fratura na democracia ser medida pela quantidade de quadras ocupadas por um ato. Há muito mais a se considerar.
A extrema direita não aprendeu a se organizar. Ela sempre foi organizada e estratégica. Mas a extrema direita brasileira aprendeu muito com sua interação transnacional. Aprendeu muito e ganhou muito. E uma coisa que ela aprendeu foi normalizar os processos de ruptura democrática e disputar o próprio sentido de democracia
Olhem bem para o discurso de Bolsonaro. Olhem bem para toda a proposta de organização e convocação do próprio ato. Estão cada vez mais seguros da narrativa de que estão em uma luta pela liberdade e a defesa da democracia no país. A "rede de solidariedade" da extrema direita global está incumbida de projetar ao mundo um roteiro de perseguição e silenciamento.
Sim, eles estão comprometidos em acreditar nas próprias mentiras e jogar para os defensores da democracia o peso de provar a verdade. Não é mais apenas sobre "como as democracias morrem". Isso é sobre como a democracia deixa de ser o que é.
De repente, um ato, que é nitidamente para fortalecer Bolsonaro e postergar sua prisão, tornou-se um ato em "defesa da democracia e da liberdade de expressão".
O nacionalismo cristão segue sendo a narrativa capaz de agregar e comunicar com multidões.
Enquanto qualquer ato ou discurso situado no campo progressista procura, minimamente, destacar ou considerar a diversidade do país, incluindo sua diversidade religiosa e de gênero. A extrema direita joga isso para o espaço.
É nacionalismo cristão héteromachista puro e simples. Não tem a ver com o universo evangélico, não tem Bíblia, não importa o que os Evangelhos possam dizer. É supremacia e força, a religião como política.
Não importa o quão diverso pode ser o número de apoiadores de Bolsonaro. O regime é heteronormativo, moralista, cristão e masculino. É a razão pela qual Nikolas Ferreira se sente confortável em dizer que o país precisa é de "homens com testosterona".
Não importa o quão diverso o público seja. O regime é cristão e fundamentalista. É a razão pela qual Michelle se sente confortável em dizer que "o Brasil é do Senhor Jesus".
O nacionalismo cristão há de ser a desgraça da democracia brasileira em pouquíssimo tempo, a exemplo dos Estados Unidos. Uma ideologia extremista que vai alcançando níveis de fascismo diante dos nossos olhos.
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