Quem venceu debate UOL/Folha entre candidatos em SP? Colunistas opinam

Debate realizado pelo UOL e pela Folha nesta segunda-feira (30) foi marcado por confrontos sobre corrupção, religião e temas relacionados a mulheres. Participaram do embate Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB) e Tabata Amaral (PSB), candidatos numericamente mais bem colocados no último Datafolha.

Veja a análise dos colunistas do UOL sobre quem venceu o debate:

Andreza Matais

O debate do UOL/Folha antecipou a disputa do segundo turno que, hoje, segundo o Datafolha, será entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Os dois duelaram durante todo o debate e trataram Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB) como café com leite.

Boulos deixou clara a estratégia ao afirmar para Tabata que sua disputa era com "os dois candidatos bolsonaristas", para deixá-la sem resposta.

"O meu enfrentamento é contra dois bolsonaristas", afirmou Boulos. "Nem Lula nem Bolsonaro são candidatos nesta eleição", rebateu Tabata.

Pela primeira vez nesta eleição, tenho dificuldade em dizer quem venceu a rodada. Meu voto vai para a regra inovadora do UOL de banco de tempo, que permitiu ao eleitor o melhor debate até agora, ao possibilitar que os candidatos levantassem a mão para participar de todos os temas sem necessidade de enrolar para cumprir o tempo.

E aos colegas jornalistas que fizeram perguntas fora do script dos marqueteiros, como a que expôs a ausência de Tabata na votação do projeto que liberou jogos online (bets), em dezembro do ano passado.

José Roberto de Toledo

Eu gostei muito do debate. Achei que foi, de longe, o melhor do ponto de vista da dinâmica. E para a gente não ter sono, não precisou de cadeirada, nem de soco, nem de agressão, nem de nada. Foi um debate em que a gente conseguiu, mais do que saber as ideias dos candidatos, ver o comportamento deles numa situação que não é teatral.

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Eu acho que o grande perdedor foi o prefeito Ricardo Nunes, não só porque teve muitas críticas a ele de todos os adversários, mas pela capacidade de administrar o próprio tempo que realmente coloca em questão a capacidade gerencial e administrativa dele, porque foi um vareio de tempo.

Nunes ficou com menos de um minuto do que todos os outros candidatos, quer dizer, realmente uma incapacidade de gestão muito grande que coloca em questão a capacidade administrativa dele. Segundo, ele deixou muitas questões em aberto, como os outros adversários fizeram questão de marcar. Isso foi uma tática muito clara. Terceiro, o Pablo Marçal deixou para o finalzinho ali as provocações, mas num nível diferente do que nos debates anteriores. E conseguiu, no meu caso pelo menos, até arrancar algumas risadas quando ele repetiu pela vigésima vez a mesma pergunta em direção ao Ricardo Nunes. E imagino que isso tenha algum tipo de efeito, possa vir a ter algum tipo de efeito sobre a campanha em si.

Leonardo Sakamoto

As regras do debate UOL/Folha foram ótimas para Pablo Marçal — não à toa ele parabenizou o formato. Após ser escanteado pelos principais adversários nos últimos encontros, ele conseguiu fazer confrontos diretos com Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. O seu principal alvo foi o prefeito, que foi insistentemente questionado por ele sobre o BO registrado por sua esposa por violência doméstica. Para isso, usou a mesma provocação misógina que adotou contra Datena antes da cadeirada ("seja homem e fale") para tentar tirá-lo do sério.

Nunes perdeu o debate. Menos por não ter administrado o tempo e ficado em silêncio ao final, mas mais por apanhar de todos os lados e não conseguir reagir com convicção. Mas Marçal não venceu. Com alta rejeição entre as mulheres, ele abriu o alçapão no fundo do poço ao se lambuzar no machismo. Por exemplo, ao falar para Tabata Amaral: "Se mulher fosse votar em você, você ganharia no primeiro turno. Mulher não vai votar em mulher, mulher é inteligente. Ela tem sabedoria. Se fosse isso, pobre votava em pobre, negro ia votar em negro". Boulos, por ter inoculado nova fake sobre uso de drogas, e Tabata, que tentou trazer o debate para propostas, foram melhores.

Matheus Pichonelli

Quem se saiu melhor no debate foi Tabata Amaral. Coube a ela trazer para a conversa propostas concretas enquanto os marmanjos trocavam sopapos (verbais, felizmente, desta vez). Ela fugiu das bananas ideológicas arremessadas por Pablo Marçal, fez um belo discurso sobre cristanismo e instrumentalização da fé, e questionou oponentes sobre questões como saúde mental, acolhimento a pessoas com deficiência, educação, transportes, etc. Recebeu até convite para ser secretária da Educação em um possível governo Marçal. Era outra armadilha (das grandes). Ofereceu a ele a melhor resposta: o silêncio.

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Raquel Landim

Ricardo Nunes se tornou o principal alvo do debate. De todos os adversários, mas principalmente de Pablo Marçal com quem disputa votos na direita.

A estratégia de Marçal de cobrar explicações sobre o boletim de ocorrência contra a esposa do prefeito por agressão foge de propostas, mas chamou muita atenção e o tema da violência doméstica é importante.

Guilherme Boulos (PSOL) respaldou a pergunta de Marçal, também indagando Nunes sobre o caso.Já Tabata interrompeu o embate para tentar colocar propostas sobre violência doméstica. O que mais dificultou a vida do prefeito, no entanto, é que faltaram respostas. Ele se limitou a afirmar que não ia entrar na "onda" de Marçal.

Marçal administrou melhor seu tempo e dominou o debate no final, mas não pode ser considerado o vencedor. Ele tem uma rejeição muito alta, particularmente entre as mulheres. E se mostrou novamente agressivo contra todos os adversários. Foi particularmente machista quando disse que "mulher não vota em mulher, porque mulher é inteligente".

Ronilson Pacheco

O formato do debate está aprovadíssimo. Uma interação maior e muito mais dinâmico de trocas entre os candidatos. As performances se repetiram, com Tabata sendo sempre mais propositiva, tentando aproveitar cada momento. Uma pena que debates tem sido muito pouco sobre isso, propostas. O tripé Boulos-Marçal-Nunes atacaram-se mutuamente, disputando à finco o eleitorado que os tem equiparado, colocando-os em um empate que insiste em permanecer.

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Achei curioso como a religião apareceu de maneira mais incisiva, com uma disputa aberta sobre "quem é o verdadeiro cristão". É um péssimo sinal que um candidato exija de seu oponente, não uma proposta concreta, mas um versículo bíblico correto, como se estivesse em um concurso de escola bíblica dominical. Ao dizer que "um verdadeiro cristão vai para o confronto", Marçal evoca, de novo, a gramática religiosa associada com a violência e a linguagem bélica.

É uma pena que formatos não dão conta de conter um candidato a perguntas objetivas e respostas coerentes. Então, o que resta, é, mais uma vez, Pablo Marçal produzindo seus cortes de ataques baixos e desnecessários.

Thaís Bilenky

Ricardo Nunes foi o principal alvo de todos os oponentes, como é natural, já que é o prefeito no mandato. Mas ficou na defensiva, demonstrou irritação nas palavras e linguagem corporal e não conseguiu assumir o protagonismo com agenda positiva. Geriu mal o cronômetro, ficou sem tempo no final e foi alvejado por Pablo Marçal sem direito a resposta.

Marçal chegou a pedir perdão pra sociedade porque cometeu crime, se vitimizou responsabilizando um colega que o teria ludibriado. Justo ele que diz não se vitimizar. E as provocações que desferiu já estão gastas e surtiram menos efeito desestabilizador sobre os adversários.

Tabata Amaral se beneficiou do formato do debate com banco de minutos, que deu a ela a oportunidade de participar de embates dos quais muitas vezes é alijada. Demonstrou impaciência e não chegou a influenciar a pauta do debate.

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Guilherme Boulos não caiu em provocação de Marçal, fez Nunes gastar tempo se defendendo e ignorou Tabata. Apareceu mais no começo ao responder com aparente franqueza sobre depressão na juventude e ter experimentado maconha e não ter gostado. Se não exatamente ganhou o debate, foi o que menos perdeu.

Tales Faria

Foi Nunes quem se saiu pior no debate. Ele deixou de responder a perguntas sobre acusações envolvendo mau uso de recursos públicos e a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indicar integrantes de seu eventual futuro secretariado.

O prefeito chegou a ser ridicularizado por Marçal por não ter conseguido administrar seu tempo "quanto mais a prefeitura".

Nunes também foi ridicularizado por Marçal por ter deixado sem resposta as 14 vezes em que o adversário pediu que explicasse os motivos de sua mulher ter dado entrada num Boletim de Ocorrência acusando-o de violência doméstica.

Por conta disso, o prefeito foi o único que não reconheceu, nas entrevistas posteriores, que este foi o melhor debate entre os candidatos da campanha em São Paulo.

Opinião

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