Quem venceu o debate final para Prefeitura de SP? Colunistas opinam

O último debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo foi especialmente marcado pela troca de acusações entre Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) e pela tentativa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de tentar defender sua gestão.

Veja a análise dos colunistas do UOL sobre quem venceu o debate:

Andreza Matais

Era o debate mais esperado por ser na emissora de maior audiência do país e o último antes da eleição, quando não há mais propaganda eleitoral na TV. Mas foi um debate cansativo, com os candidatos se comportando como em um comício.

Ninguém surpreendeu no debate, mas dois pontos se destacam. Ricardo Nunes (MDB) finalmente respondeu sobre o boletim de ocorrência de sua mulher. O assunto vinha preocupando sua campanha, e ele resistia em abordá-lo. Explicou que é casado há 27 anos e que, há 14, teve um desentendimento com a mulher. A discussão ocorreu por telefone e por mensagem, disse, quando os dois estavam separados. Negou, assim, qualquer agressão física e disse que os dois voltaram a se entender e seguem juntos.

Guilherme Boulos (PSOL) também respondeu sobre o uso de drogas, uma suspeita que o persegue desde o início da campanha, apresentando um exame toxicológico.

Nos dois casos, Nunes e Boulos responderam a provocações de Pablo Marçal (PRTB) numa tentativa de afastar as pechas coladas pelo adversário.

Quem venceu o debate foi Tabata Amaral (PSB), que usou seu tempo para pedir ao eleitor que vote com sua consciência e não no "menos pior".

Leonardo Sakamoto

Em um debate com mais propostas do que ataques pessoais (milagre operado pelo medo dos candidatos soarem agressivos na TV Globo), Ricardo Nunes foi espancado por críticas à sua gestão e embananou-se em respostas. Ele, que já tinha vivido uma tarde ruim quando o Datafolha mostrou que Pablo Marçal havia lhe roubado três pontos, foi o grande perdedor da noite. O que é péssimo para ele nesta reta final.

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Já o ex-coach prometeu a campanha inteira que provaria no último debate do primeiro turno que Guilherme Boulos é usuário de cocaína. E, em cima dessa fake, excitou seguidores por semanas. Nesta quinta, flopou e nada trouxe. Quem levou foi o próprio deputado do PSOL, que fez um exame toxicológico e cobrou dele um teste psicotécnico. Boulos, que tirou Nunes e Marçal do sério, ganhou por pontos. José Luís Datena estava tranquilo, e Tabata Amaral, indignada.

Matheus Pichonelli

Guilherme Boulos foi o destaque do debate da TV Globo. Ele conseguiu responder sem agressividade às provocações de oponentes — inclusive de Tabata Amaral — e tirou Pablo Marçal do sério mais de uma vez, quebrando a estratégia do rival de parecer sereno e propositivo para minimizar a alta rejeição (53% dos eleitores) apontada no mesmo dia pelo Datafolha.

Marçal saiu do sério quando questionado por Boulos sobre por que odiava as mulheres. E também quando o psolista apresentou um exame toxicológico para desmentir o influencer que passou a campanha o acusando de ser usuário de cocaína.

Raquel Landim

Guilherme Boulos aproveitou o confronto para se vacinar contra possíveis provocações de Pablo Marçal. Chegou até a apresentar um exame toxicológico. Nunes já havia feito isso no início da campanha.

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Marçal não cumpriu a ameaça de falar sobre o episódio da internação de Boulos por depressão. Seu prontuário médico já havia sido divulgado pelo UOL, mostrando que se tratava de uma depressão moderada e que o candidato havia ficado internado por apenas uma semana na adolescência.

Em queda nas pesquisas, Nunes se aproveitou do formato mais rígido do debate e não ficou tão acuado. Utilizou as considerações finais para esclarecer a questão do BO da esposa e dizer que não houve agressão física.

Paradoxalmente, sem tanta agressividade, Tabata não conseguiu se destacar, porque não precisou de um "adulto" na sala.

Reinaldo Azevedo

Entre os três candidatos com chances de figurar no segundo turno na disputa pela prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos teve de longe o melhor desempenho no debate na Globo. Pablo Marçal, embora em pele de cordeiro — o lobo bobo chegou a se manifestar, mas não "prosperou", para usar um verbo de que ele gosta muito —, não comprometeu, dado o seu público. Ricardo Nunes não conseguiu sair da defensiva. Desempenho fraco.

Se os números do Datafolha congelam um instante de uma dinâmica e se o evento interfere em alguma coisa, então não há razão para Boulos parar de crescer — 26% na pesquisa — e para Nunes parar de cair: 24%. Ainda que eu esteja como naquela música de Chico e Ruy Guerra sobre a diferença entre intenção e gesto, tenho de escrever: Marçal teve a melhor performance na comparação com a sua própria e horrível persona pública em outros debates, embora muito mais acanhado e visivelmente nervoso. O "coach" tremeu. Escolheu experimentar o lugar da vítima. Se notaram, o "libertário" ameaçou criar uma empresa municipal de saneamento, entre outras bobagens. Santo Deus!

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José Luiz Datena (PSDB) bordou a sua fala com comentários genéricos, visivelmente fora de um lugar que conhece bem, onde tem retórica contundente. Não ali. Tabata Amaral não se elegerá desta feita, mas não será por falta de propostas. Eu diria que ela promove uma espécie de vertigem de soluções para todos os males da cidade e do mundo, sempre com uma inflexão de primeira aluna da sala muito ciosa de sua sapiência. Na vida, funciona, e ela é a prova. Na política, dadas as suas grandes ambições, terá de aprender a dosar o excesso de solucionáticas para tantas problemáticas.

A futura ocupante da centro-direita democrática se manifestou no debate quando, mais uma vez, tentou pespegar em Boulos a pecha de falso moderado, que tenta dar um truque no eleitor. E, por isso, foi elogiada duas vezes por Marçal e uma por Nunes. Elogios justos, se é que me entendem. Numa pitada de bom humor, acho que vai ter de aprender a dançar um pouco de frevo com João Campos (PSB), seu namorado, que administra Recife. Será um dos campeões nacionais de voto. Não porque ele é o homem, e ela, a mulher. Mas porque tem ginga.

Ouso sugerir a Tabata um poema da formidável Adélia Prado, vencedora do Prêmio Camões. Chama-se "Com licença poética":

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

É o poema mais feminista que conheço.

Ronilso Pacheco

O último debate teve a cara que se esperava de todos os outros. Talvez exatamente por isso, parece ter sido um debate que não alavancou nenhuma mudança significativa, e parece que não terá nenhum grande impacto efetivo na eleição. Seria um debate "comum" demais em tempos de promoções gratuitas de violência física e verbal? Talvez.

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As peças mudaram muito pouco no tabuleiro. Também pareceu uma performance melancólica de Marçal. Contido, previsível em seus ataques depois de tantos debates, gastou grande parte do seu tempo praticamente implorando pelo voto dos eleitores.

Sem ataque, ironia e deboche, Marçal não brilha. Implora por votos. Definitivamente, nada está decidido, a imprevisibilidade continua, não apenas entre quem serão os nomes do segundo turno, mas também sobre que cara tem o eleitor de São Paulo.

Opinião

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