Quem venceu debate entre candidatos à Prefeitura de SP? Colunistas opinam
Após casos de agressão, o debate da TV Record, neste sábado (20), entre seis candidatos à Prefeitura de São Paulo, teve regras mais rígidas e foi menos tenso e agressivo. Participaram Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), José Luiz Datena (PSDB) e Marina Helena (Novo).
Veja a análise dos colunistas do UOL sobre quem venceu o debate:
Leonardo Sakamoto
Jesus Cristo venceu o debate. Apesar de ele não ter demonstrado interesse nenhum em governar uma bucha como a capital paulista, Nunes, Marçal e Tabata citaram os Evangelhos ou falaram de sua relação com a Igreja.
As más línguas dizem que foi de olho na audiência da Record. Destaque também para a árvore genealógica, que foi lembrada várias vezes para atestar origem humilde ou migrante, e para a Venezuela —que se mantém onipresente nos debates, apesar de a distância rodoviária São Paulo-Caracas ser de 6.147 km.
À frente nas pesquisas, o prefeito Nunes apanhou de todo mundo, principalmente de Marçal (que foi ignorado pelos candidatos mais bem colocados e, temendo a audiência, comportou-se) e Boulos. O deputado, por sua vez, foi alvo de Tabata (a última semana do pleito, é o momento das migrações do voto útil?) e de Marina. Aliás, a candidata do Novo parece ter vindo só para atacar a deputada e Boulos. Datena teve bom momento quando respondeu à acusação de destempero no caso da cadeirada.
Ronilso Pacheco
A primeira conclusão óbvia é de um debate "normal". E fazer esta observação já diz muito sobre o nosso contexto político. Sim, o apresentador ter gasto tanto tempo enfatizando regras de conduta e advertências aos candidatos também diz muito. Mas foi possível, até o final. No entanto, nós parecemos ter visto um Pablo Marçal como um "pitbull de focinheira". E isso mudou tudo na condução e compostura do debate.
Tabata consegue ser a mais propositiva, embora Boulos também tenha se saído muito bem, mesmo tendo de adotar uma estratégia ofensiva, porque é isso ou ele corre o risco de estar fora do segundo turno. Novamente, a Marina Helena parece viver em outro mundo. E esse mundo não tem pobres, periféricos e escola pública de qualidade. Bater publicamente em Paulo Freire foi um ato político ousado.
Nunes se saiu muito bem, buscando sempre o tom sereno e tentando elencar o que ele diz ter feito. Nas suas considerações finais, Nunes cita um versículo bíblico. Um sinal importante de sua aproximação maior do público cristão evangélico, que pode ser fundamental para mantê-lo na prefeitura.
Andreza Matais
Pela primeira vez nos nove debates dos candidatos à prefeitura de São Paulo, Boulos foi confrontado com as propostas radicais do seu partido. O questionamento partiu de Tabata, que disputa com Boulos os votos da esquerda. Nunes, Marçal e Marina Helena aproveitaram e reforçaram o tema. A provocação fez Tabata ganhar o debate de hoje.
Em quarto lugar nas pesquisas, com 9% das intenções de votos no último Datafolha, Tabata aproveitou bem o debate para tentar tirar votos de Boulos. "Você abriu mão de posicionamentos históricos. Você dizia que era a favor da descriminalização das drogas, agora é contra. Netsa semana, você mudou de posição em relação à Venezuela, e diz que é uma ditadura. Mas o partido mantém as mesmas posturas", disse.
A candidata também trouxe, pela primeira vez, a religião para o seu discurso. Católica, Tabata disse várias vezes da importância da Igreja na sua vida e para quem está na periferia. Os católicos são maioria do eleitorado de São Paulo. Para o público evangélico da Record, Tabata não citou o catolicismo, mas falou estrategicamente em Igreja, Deus e fé.
Quem perdeu o debate foi Nunes. O prefeito se mostra cansado e deixou sem resposta as perguntas sobre a máfia das creches, um assunto delicado para sua campanha.
Josias de Souza
Decepcionou-se quem sintonizou no debate realizado pela TV Record imaginando que assistiria a uma nova rodada de pancadaria. Não houve cadeirada nem soco. Na emissora do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, alguns candidatos soaram como se disputassem uma poltrona no céu, não o trono de prefeito de São Paulo —uma cidade com ares de inferno irrespirável.
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Quero receberAfora as frases de efeito duvidoso e a carga religiosa, o nono debate da temporada teve três destaques:
1) De olho no eleitor indeciso, Pablo Marçal levou a incivilidade na coleira. Está atento às pesquisas que diz desprezar. Com atraso, tenta seduzir os não convertidos. Segundo o Datafolha, há na praça 32% de votos que namoram a ideia de trocar de candidato.
2) Contra o voto útil, Tabata Amaral fustigou Guilherme Boulos com uma menção à volatilidade de suas posições em relação a temas como descriminalização das drogas, aborto e ditadura na Venezuela.
3) Alvo preferencial da noite, Nunes não fez gol de placa nem gol contra. Como um drone guiado pelo controle remoto de sua equipe de marketing, o prefeito jogou pelo empate. Driblando os esqueletos que tem no armário, deu à disputa ares de um plebiscito para decidir se o incerto conhecido deve continuar na Prefeitura ou dar lugar a uma certa dúvida.
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