Mulher de almirante 'número dois' da Defesa ocupa cargo na Presidência
O almirante de esquadra e "número dois" do Ministério da Defesa, Almir Garnier Santos, além de ter um filho empregado na Emgepron, uma estatal vinculada à Marinha, conforme a coluna revelou no último dia 12, também tem sua esposa contratada em cargo comissionado na Presidência da República.
Selma Foligne Crespio de Pinho, que segundo o governo tem doutorado em computação e mestrado em engenharia de sistemas e computação, havia se aposentado na Marinha em abril de 2019 mas, poucos meses depois, em novembro, foi contratada pelo governo de Jair Bolsonaro em um cargo comissionado na SG (Secretaria-Geral da Presidência), comandada pelo ministro Jorge Antônio Oliveira Francisco.
No último dia 8, o ministro exonerou Selma do cargo anterior e no mesmo ato a nomeou para exercer outro cargo no órgão, o de diretora de Estratégia, Padronização e Monitoramento de Projetos da Seme (Secretaria Especial de Modernização do Estado) da SG. A unidade que passa a ser dirigida por Selma, segundo a SG, foi criada no mês passado.
Nos três primeiros meses deste ano, Selma recebeu um salário bruto de de R$ 29,5 mil na SG. Com os descontos, teve direito a R$ 20,5 mil líquidos, em média.
Somados, os ganhos dos três membros da família Garnier durante o governo Bolsonaro giraram em torno de R$ 56 mil mensais, em média, nos últimos meses. O almirante Garnier tem uma remuneração bruta de R$ 40 mil, mas recebe líquidos R$ 25,6 mil mensais, já que é aplicado o "abate teto", mecanismo pelo qual um servidor não pode receber mais do que um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Terceiro membro da família em cargo de livre provimento, o filho do almirante, o advogado Almir Garnier Santos Júnior, recebe R$ 10,9 mil mensais da Emgepron (Empresa Gerencial de Projetos Navais), uma empresa pública vinculada à Marinha. Ele foi nomeado em julho do ano passado no cargo de "assessor-adjunto de Compliance e Integridade Corporativa (Compliance Officer)".
'Sem interação'
Sobre a contratação de Selma, a SG da Presidência afirmou à coluna que "não houve qualquer interação" com o almirante Garnier "para a escolha da servidora, que foi selecionada por causa do apropriado curriculum, adequado aos desafios da pasta".
A SG disse que "conheceu as competências da dra. Selma Foligne Crespio de Pinho por meio de um processo seletivo descrito no Edital de Oportunidades 006/2019, da Presidência da República. Diante do vasto curriculum vitae da candidata, o mesmo permaneceu no banco de dados da Presidência da República, o que possibilitou a sua seleção para compor a Secretaria Especial de Modernização do Estado (SEME)".
"A servidora atuou por mais de 30 anos como gerente sênior de Projetos e chefiou o Escritório de Gestão de Projetos da Diretoria de Gestão de Projetos de Programas Estratégicos da Marinha do Brasil. Foi professora em cursos de graduação e pós-graduação nas áreas de Gerenciamento de Projetos e de Tecnologia da Informação, em instituições públicas e privadas", disse a SG.
O órgão afirmou que a unidade criada em maio e que passa a ser dirigida por Selma era necessária para "zelar pelo método e padronização dos projetos" da Seme. A nova diretora terá como atribuições, entre outras, "definir e orientar sobre a aplicação de metodologias de gerenciamento de projetos, no âmbito da Secretaria Especial, e instituir o processo de gestão do conhecimento" e "monitorar os projetos da Secretaria Especial e disponibilizar painéis que contenham as informações consolidadas do carteira de projetos".
O Ministério da Defesa respondeu à coluna que Selma "é doutora em Computação de Alto Desempenho (2006) e mestre em Engenharia de Sistemas e Computação (2001), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro/COPPE-UFRJ. Em mais de 30 anos de carreira, é uma profissional com vasta experiência em gerenciamento de portfolios, programas e projetos".
O ministério disse ainda que seu ingresso na SG "teve início quando atendeu ao chamamento de um Edital Público. Demandas sobre o processo, critérios para a seleção, contratação e qualificações para o cargo deverão ser direcionadas, portanto, à SG-PR".
A coluna pediu que tanto Garnier quanto Selma se manifestassem sobre o assunto, se assim desejassem, mas não houve comentários.
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