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Redes sociais da Caixa 'bombam' a imagem do presidente do banco
O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, tem um tratamento de estrela nos perfis oficiais da instituição nas redes sociais. Seguido de perto por câmeras nas constantes viagens que faz pelo país, ele aparece atravessando um rio e caminhando numa trilha no Jalapão (TO), checando uma pescaria de barco em Santa Catarina, tirando uma selfie em Resende (RJ), atravessando uma ponte em Goiás, visitando uma gruta.
A coluna contou, apenas de 1º de julho a 9 de setembro deste ano, 72 publicações com a figura de Guimarães em fotografias ou vídeos nos perfis oficiais da Caixa no Twitter, Instagram e Facebook. As imagens são acompanhadas de textos que enaltecem a presença, o nome e o cargo de Guimarães.
As postagens sobre as viagens de Guimarães são vistas por milhões de brasileiros. O banco tem 4,7 milhões de seguidores no Facebook, 1,9 milhão de seguidores no Instagram e 364 mil no Twitter.
Procurada pela coluna, a Caixa disse que "não utiliza as redes sociais institucionais para projetar pessoas". "O banco faz uso dessa ponte de relacionamento para colocar em prática os preceitos fundamentais da Comunicação Social: formar, informar e dar transparência à sociedade." (íntegra da resposta ao final deste texto).
Em decisão recente revelada pela coluna em 21 de agosto, o plenário do TCU (Tribunal de Contas da União) decidiu advertir a Secom (Secretaria Especial de Comunicação), responsável pela propaganda do Palácio do Planalto, a parar de fazer em seu site oficial no Twitter qualquer tipo de divulgação considerada pelo tribunal como "promoção pessoal" do presidente Jair Bolsonaro.
O tribunal foi provocado pelo Ministério Público junto ao TCU, que questionou um conjunto de 34 publicações divulgadas em apenas dois meses, agosto e setembro de 2020, nas redes sociais da Secom.
Os ministros do TCU acompanharam as conclusões da área técnica, que analisou a aplicação do artigo 37 da Constituição. Em seu parágrafo 1º, o artigo veda expressamente a propaganda que exalte os representantes dos órgãos públicos: "A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos".
Pode ser 'forma sutil de burla' à vedação constitucional, diz especialista
Ex-presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República nas gestões Dilma Rousseff e Michel Temer, o advogado Mauro de Azevedo Menezes disse que as publicações do banco precisam ser analisadas caso a caso. O que mais chamou a sua atenção foi "a repetição das viagens e das imagens, de forma que a figura do presidente vai ganhando centralidade". Ele olhou algumas publicações a pedido da coluna.
"Podemos estar diante de uma forma sutil de burla ao dispositivo constitucional, o que merece atenção da sociedade. Quando se olha o conjunto das publicações, sobressaem a quantidade de viagens e o uso da estrutura da Caixa, sempre com a presença do presidente e em determinadas situações aparentemente desconectadas de ações efetivas da Caixa, como caminhadas em parques ecológicos. Ou quando ele começa a se pronunciar sobre agronegócio ou preservação ambiental."
Muitas das publicações fazem referência a um projeto criado pelo banco em janeiro de 2019, isto é, no começo da gestão de Guimarães, denominado "Caixa mais Brasil". O texto divulgado pelo banco nas redes sociais em 27 de agosto cita que aquela era a "112ª edição" do projeto, sugerindo que haviam ocorrido, até ali, 112 deslocamentos do gênero.
Naquele dia, por exemplo, Guimarães "e comitiva" visitaram o Parque Estadual Telma Ortegal, em Abadia de Goiás (GO). Os perfis oficiais dizem que "a Caixa tem buscado identificar as necessidades de diversas unidades de conservação, em todo o país, para aplicar recursos na preservação e em ações sociais por meio do programa 'Caixa Florestas'".
No segundo semestre de agosto, dizem as publicações da Caixa, "dirigentes e funcionários da Caixa, liderados pelo presidente Pedro Guimarães", visitaram "15 unidades florestais espalhadas por todo o país". No dia 20, "a equipe da Caixa teve a oportunidade de conhecer diversas sub-bacias do Rio Tocantins". O objetivo desses deslocamentos também está vinculado ao projeto "Caixa Florestas" que, segundo o banco, "investirá R$ 150 milhões do Fundo Socioambiental Caixa na proteção do meio ambiente em todos os biomas brasileiros".
"Em alguns casos, como essa viagem ao Jalapão, não parece ter uma ação específica da Caixa. Ele vai para 'conhecer aquele parque nacional e pensar o quão importante são as ações ambientais'. São coisas bastante soltas para ser uma divulgação de um programa da Caixa", disse Mauro Menezes.
Banco diz que "dá visibilidade" à iniciativa "inédita"
Na nota enviada à coluna, a Caixa afirmou que registrou "um lucro recorde" de R$ 45 bilhões nos últimos dois anos e meio. Em nota divulgada no último dia 20, a Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal) afirmou que parte desse resultado se deve à "venda de ativos" da instituição, o que demonstraria "a redução do papel social do banco público e a política de desmonte da atual gestão da instituição, que é o de privatizar a Caixa aos pedaços".
A íntegra da nota enviada à coluna pela Caixa:
A Caixa não utiliza as redes sociais institucionais para projetar pessoas. O banco faz uso dessa ponte de relacionamento para colocar em prática os preceitos fundamentais da Comunicação Social: formar, informar e dar transparência à sociedade.
Dessa forma, a Caixa incrementa a publicidade de atos praticados e serviços oferecidos, bem como prestigia datas comemorativas, funcionários e clientes do banco.
Durante os nove primeiro dias de setembro, por exemplo, foram divulgados vinte posts no Instagram da Caixa. Dezoito deles tratam assuntos diversos: Auxílio Emergencial, Paralimpíadas, Datas Comemorativas e Semana Brasil, por exemplo. Apenas dois falam do 'Caixa Mais Brasil'.
O 'Caixa Mais Brasil' é um ciclo de visitas técnicas, criado em janeiro de 2019, para possibilitar à alta gestão conhecer, nos fins de semana, as reais necessidades da população e dos clientes.
Um exemplo da importância de se visitar as equipes da ponta foi a racionalização dos espaços, com a devolução de mais de 130 imóveis, a otimização de espaços e a redução de aluguéis, tendo como consequência direta a economia de R$ 10 bilhões, em valores presentes, considerando a perpetuidade dos contratos.
O 'Caixa Mais Brasil' é importante ação de gestão que permitiu maximizar o valor dos negócios e melhorar o cumprimento do objetivo social da Caixa, resultando, nos últimos dois anos e meio, no lucro recorde de R$ 45 bilhões, um resultado sem precedentes e ligado diretamente ao conhecimento que se tem do público alvo.
Portanto, dar visibilidade ao cidadão de uma iniciativa inédita da Caixa, com resultados positivos para a sociedade e para o banco, é simplesmente respeitar o direito fundamental à informação que todo cidadão deve ter, em especial quando estamos nos referindo a um banco 100% público.
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