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Onyx Lorenzoni nunca foi de fato ministro chefe da Casa Civil

 Onyx Lorenzoni (direita) durante visita do presidente a um Congresso com quem não se entendia - Foto Folhapress -
Onyx Lorenzoni (direita) durante visita do presidente a um Congresso com quem não se entendia - Foto Folhapress

Colunista do UOL

13/02/2020 18h03Atualizada em 14/02/2020 14h57

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Um ministro-chefe da Casa Civil tem como principal atribuição "organizar a casa".

Alguns organizaram a casa internamente, ou seja, o Palácio do Planalto e a Esplanada dos Ministérios.

Serviam como principal elo de ligação entre o presidente e seus ministros, acompanhando a execução das ordens do chefe a seus subordinados.

Eram ministros operadores, como a Dilma Rousseff do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que faziam também a interligação entre as diversas pastas para tornar os programas governamentais mais ágeis.

No caso da Dilma, ela foi encarregada do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, um enorme cronograma de obras que se utilizava dos serviços de vários ministérios.

Outros ministros-chefes da Casa Civil atuaram como coordenadores políticos do governo.

Foi o caso de Golbery do Couto e Silva, na gestão do general Ernesto Geisel, durante a ditadura militar. Ou até de José Dirceu, durante um período do governo Lula; Henrique Hargreaves, no governo Itamar Franco, e mesmo Eliseu Padilha, na administração Michel Temer.

Já o Onyx Lorenzoni de Jair Bolsonaro nunca conseguiu atuar de fato como um verdadeiro ministro-chefe da Casa Civil.

Era um deputado mal relacionado no Congresso e até mesmo dentro de seu partido, o DEM, que não se dava bem com o então líder Rodrigo Maia (DEM-RJ), quando resolveu apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro a presidente.

Por ter sido pioneiro, obteve a gratidão do eleito e foi ungido para a poderosíssima Casa Civil. Mas não conseguiu estabelecer uma relação de confiança com o Congresso.

É verdade que seu chefe, Bolsonaro, nunca ajudou. Sempre deixou claro que desprezava o apoio dos partidos e de seus caciques. Além disso, não deu a Onyx os instrumentos tradicionais de troca de apoio com o Congresso, como nomeações para o segundo escalão e liberação de emendas.

Desgastado, mas ainda com a amizade pessoal do chefe, foi deslocado da coordenação política — entregue ao ministro da Secretaria de Governo do Planalto, Luiz Eduardo Ramos — para chefiar o chamado Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Ou seja, Bolsonaro tentou fazer de Onyx a Dilma de seu governo. Mas o ministro entregou o PPI a um subordinado e se interessou mais por preparar uma possível campanha a governador do Rio Grande do Sul.

O PPI foi entregue a seu subordinado e secretário-executivo, Vicente Santini, que, por nada entender do assunto, entregou o programa a outra subordinada, Martha Seillier. Esta, sim, uma jovem gestora pública concursada, considerada no governo como bastante competente.

Enquanto Onyx tirava férias, Santini assumiu o comando da casa e resolveu utilizar um avião da FAB, no final de Janeiro, para levá-lo ao encontro da comitiva presidencial na Índia. Uma viagem calculada em cerca de R$ 700 mil aos cofres públicos.

Ali, Bolsonaro se convenceu de que Onyx realmente não tinha qualquer controle sobre sua pasta. Nunca havia tido. E o presidente resolveu simplesmente que o amigo tinha que sair.

O problema aí era de lealdade com aquele que foi um dos primeiros a ajudar na eleição presidencial.

Onyx perdeu poder, perdeu a Casa Civil, mas não perdeu ainda a amizade com o mandatário do Planalto.

Ganhou uma nova chance: gerir uma pasta que pode garantir votos para ele próprio e para o presidente: o Ministério da Cidadania é responsável simplesmente pelo programa Bolsa Família.

Se não mostrar apetência por este cargo, aí não tem mais jeito. Mas Bolsonaro acredita que desta vez pode dar certo.