Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro, seus filhos e o Congresso encorajaram Daniel Silveira
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Não. Não apareceram do nada as ameaças do deputado Daniel Silveira contra os ministros do Supremo Tribunal Federal. Ele teve quem ensinasse esse método agressivo de buscar fama e eleitores. Sobretudo, o deputado foi encorajado pela própria Câmara.
Sem sofrer punição significativa, outros, como ele, conquistaram a atenção da opinião pública graças a este tipo de atitude violenta.
Quem primeiro ensinou o caminho do sucesso a Daniel Silveira foi o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, décadas atrás, numa entrevista ao Jô Soares.
Viu que o próprio Bolsonaro fala no vídeo que, se não falasse em fuzilar o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ele não seria chamado para aparecer no programa?
Pois é. Daniel Silveira era um ilustre desconhecido que se candidatou a deputado pelo Rio de Janeiro em 2018. Teve poucos votos, 30 mil. Mas teria muito menos —provavelmente não se elegeria— se não tivesse ganhado fama após quebrar uma placa em homenagem a Marielle Franco, vereadora assassinada por milicianos.
Já houve época na história em que deputados eram cassados por falta de decoro. Barreto Pinto, em 1949, perdeu o mandato porque se deixou fotografar vestindo fraque e uma cueca samba canção.
Mas o tempo passou e não se exigiu mais um comportamento exemplar de nossos representantes. Bolsonaro não foi molestado pela Câmara, nem mesmo depois de defender publicamente a volta da ditadura, torturas e assassinatos em massa. Nem precisa assistir todo o vídeo abaixo. Basta ver os 31 primeiros segundos.
Eram tempos de paz. A política não estava conflagrada. Então aquilo passou como coisa folclórica. Jô Soares ria do deputado amalucado, o Conselho de Ética da Câmara, no máximo, o advertiu. E o homem foi ganhando votos e seguidores no modo de agir.
Além de surrar ministros do Supremo Tribunal Federal, ele propôs que todos os onze integrantes da Corte fossem cassados.
E já houve, faz pouco tempo, quem defendeu coisa parecida e sem ser punido nem pela Câmara, nem pelo STF. Foi o caso do também deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República.
No seu vídeo, além de sugerir uma insurreição dos generais contra a democracia, Daniel Silveira defendeu a volta do Ato Institucional número 5. Trata-se do famoso AI-5, que suspendeu as liberdades individuais nos anos de chumbo. O que mesmo fez Eduardo Bolsonaro em entrevista à jornalista Leda Nagle (assista aqui:
Então, como eu ia dizendo, Daniel Silveira não surgiu do nada. Teve bons professores de maus modos. Que contaram com a omissão da Câmara, da Justiça e de todos nós.
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