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Tales Faria

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Exército disse que há algo de grave ocorrendo; ou foi só burrice?

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

10/06/2021 11h01Atualizada em 10/06/2021 13h55

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Não consigo outra explicação para o fato de o Exército ter determinado sigilo de cem anos para a investigação interna sobre a participação de Pazuello naquela manifestação dos motoqueiros bolsonaristas no Rio de Janeiro: os investigadores ou a defesa de Pazuello devem ter descoberto algo muito grave.

A propósito, por que será que o governo Bolsonaro quer dez anos de sigilo para abrir os dados do contrato para compra de vacinas da Pfizer contra o coronavírus? Ou tem um problema sério, ou é pura idiotice: estão lançando suspeitas desnecessárias sobre si mesmos e sobre a gestão militar do Ministério da Saúde.

Vamos ser francos e diretos: os militares estão tendo sua imagem pisoteada no atual governo, depois de anos em que as gestões democráticas, pós-1964, vinham retomando a credibilidade da instituição.

Por exemplo. O coronel Hélcio Franco, que foi secretário-executivo do Ministério da Saúde, fez um papelão em seu depoimento na CPI da Covid.

Ele não convenceu ninguém ao dizer que manteve negociações com o Butantan mesmo depois que o presidente proibiu a compra da vacina. Muito menos quando disse que mandou comprar uma quantidade imensa de comprimidos de cloroquina apenas para usar no combate à malária. Nem quando disse que o Supremo Tribunal Federal impediu o Ministério de agir no combate à pandemia. Ou que a pasta não disseminou o tratamento com cloroquina e outros remédios sem comprovação científica, e que não retardou a compra de vacinas da Pfizer, e por aí a fora.

Mas o vexame do coronel foi menor do que os que tem passado o seu antigo chefe, o general e ex-ministro Eduardo Pazuello. Aquele que, mansamente, ao lado do presidente, disse que a vida é assim mesmo: uns mandam e outros obedecem. Mas que depois foi à CPI dizer que não obedeceu ao chefe. Passado o depoimento, subiu no palanque com Bolsonaro na manifestação dos motoqueiros. Será que na investigação do Exército se defendeu dizendo que foi ao ato apenas obedecendo ordens do presidente? No depoimento aos senadores, Pazuello se comportou assim: disse e desdisse. Tergiversou, enrolou e se contradisse tanto que foi tratado pelos parlamentares não como um general, mas como um simples mentiroso. Da mesma forma que a Capitã Cloroquina.

É triste ver os generais nessa situação. Será que é só em troca de uns carguinhos comissionados que eles têm aceitado que o chefe de plantão do Planalto destrua a imagem da corporação?

Uma hora Bolsonaro demite sem justa causa ministros generais do Palácio que foram achincalhados publicamente por seu filho Carlos, o Zero Dois. Depois destrata o vice-presidente, general Hamilton Mourão, ou empurra para fora do cargo o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e destitui todos os comandantes da três Forças, sem explicação plausível...

Enfim, nunca imaginei que seria tão grande a vingança do capitão Bolsonaro por ter sido obrigado a se afastar do Exército e execrado publicamente pelo então comandante em chefe das Forças Armadas, o general-presidente Ernesto Geisel. Aquele que disse que Bolsonaro era um mau militar.

Só sei que, agora, ele está sendo um mal para os militares. Muito mal.