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Bolsonaro já viu o custo da energia eleger e derrubar candidaturas
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Dez entre dez políticos sabem que energia é assunto sério. Ainda mais para quem pretende se candidatar e depende do voto popular. O preço do gás de cozinha, da gasolina e da luz elétrica tanto pode eleger como pode derrubar o sonho eleitoral de qualquer um. Bolsonaro sabe muito bem. Pior ainda se vem acompanhado de escândalos familiares. Por isso ele anda gritando por aí e procurando uma saída para a encrenca em que se meteu.
O anúncio da nova bandeira tarifária por "escassez hídrica", de R$ 14,20 reais por cada 100 kilowatts-hora, faz lembrar aquele trecho do poema I Juca Pirama, de Gonçalves Dias. Termina com o velho índio sentado à noite, no meio da taba. Depois de contar uma longa história, se algum dos jovens duvidava do que ele dizia, o timbira avisava: "Meninos, eu vi."
Pois é. Eu vi o Fernando Henrique Cardoso, ainda um candidato desengonçado a presidente da República e pela primeira vez em campanha no interior do Nordeste. Tinha acabado de lançar o Plano Real como ministro da Fazenda de Itamar Franco.
Num de seus comícios, a seu lado em Pernambuco, o então deputado Maurílio Ferreira Lima, do centrão da época, dizia: "Anotem aí o preço do botijão de gás no dia de hoje. Voltarei aqui depois que o Fernando Henrique for presidente. Se o preço tiver maior, eu pago a diferença."
Eu vi e ouvi o deputado me dizer naquele comiciozinho do interior: "Esse pessoal aqui com botijão de gás a preço acessível, luz elétrica e comida no prato vai reeleger o presidente. Mas se não tiver isso, não tenha dúvida, vota na oposição."
Pois é. Passados os quatro anos de governo, com a inflação controlada, o preço do gás não variou significativamente. E Fernando Henrique Cardoso foi reeleito.
Mas, no segundo mandato, eu vi: veio a crise hídrica e um apagão elétrico. Um racionamento — que o governo não aceitava chamar assim — aumento do custo da energia, anúncio de privatizações e queda da popularidade do presidente.
Fernando Henrique Cardoso não conseguiu eleger seu candidato. O tucano José Serra foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
Meninos, eu vi. E todo mundo viu. Inclusive o então deputado Jair Bolsonaro, que naquela época gritava contra a privatização da Petrobras e anunciava aos quatro cantos que era, sim, um sonegador de impostos.
Seus filhos podem ter seguido a lição do pai. Estão aí sendo investigados — o Zero Um e o Zero Dois — pelo que seria um esquema de rachadinha dos salários de funcionários de seus gabinetes. Serviria para engordar rendimentos da família sem precisar prestar contas ao Fisco.
Mas o problema é que a investigação do Ministério Púbico, junto com a CPI, a recessão da economia, a inflação, o aumento de custo da energia e a pandemia, tudo isso derruba a popularidade do presidente da República. E tende a jogar por terra seus sonhos de reeleição.
Daí porque Bolsonaro começa a enxergar como única solução uma virada de mesa — derrubar todas as peças do xadrez e autoproclamar-se vitorioso, na marra.
Mas, meninos eu vi: isso não costuma dar certo. Eu vi o Donald Trump tentar virar a mesa nos Estados Unidos e não conseguiu. Eu vi o Fernando Collor de Mello pedir que o povo fosse às ruas para salvá-lo, e acabou expulso do Palácio do Planalto. Definitivamente, isso não costuma dar certo.
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