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Tales Faria

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Confirmado vice de Bolsonaro na convenção, Braga Netto será um tiro no pé

Colunista do UOL

23/07/2022 11h19

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A confirmação do general Braga Netto como candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro é um tiro no pé. Os adversários na campanha eleitoral, especialmente o PT de Luiz Inácio Lula da Silva, já se preparam para atacar o vice na campanha eleitoral.

O tiro no pé começa pelo fato de a convenção nacional do PL se realizar no Rio de Janeiro, estado onde o general atuou como interventor federal na área de segurança pública do estado, de 2018 a 2019, e antes disso, desde 2016, como chefe do Comando Militar do Leste, sediado no Rio. A campanha do PT pretende mostrar que a intervenção não resolveu em nada o problema da violência e do crime organizado.

A ideia é comparar o vice de Bolsonaro com o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB). Braga Netto será pintado como um militar autoritário e incompetente, enquanto Alckmin, como um democrata e bom administrador.

Será lembrado que o general também foi o coordenador geral das ações do governo federal contra a pandemia do coronavírus. Até este sábado (23), 677 mil pessoas já morreram por causa da Covid-19.

O PT pretende mostrar que o governo federal, com Bolsonaro e Braga Netto à frente, atrasou a compra e a distribuição de vacinas, segundo CPI do Senado, e ainda se envolveu em acusações de superfaturamentos e compras exageradas de remédios ineficazes, como a cloroquina.

Outro problema que Braga Netto traz para a campanha é o descontentamento dos chefes militares com a mistura promovida por Bolsonaro entre a imagem das Forças Armadas e as altas taxas de rejeição do governo.

Ao colocar Braga Netto como vice - e o general aceitar - o presidente tenta convencer o eleitorado de que as Forças Armadas, como um todo, estariam dispostas a reagir contra a eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Os chefes militares não querem entrar nessa bola dividida.

Conforme revelou a coluna de Carla Araujo, aqui no UOL, os comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, chegaram a não comparecer, apesar de convidados, à apresentação de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas para embaixadores estrangeiros sediados no Brasil.

O mal-estar na caserna cresceu no noticiário e obrigou o ministro da Defesa a pressionar o Exército a desmentir informações sobre o descontentamento.

Na última sexta-feira, 22, o Centro de Comunicação Social do Exército soltou nota endereçada à coluna de Valdo Cruz, no G1, em que "ratifica o respeito de seus integrantes à hierarquia e à disciplina, garantindo que a coesão entre os militares é uma característica inalienável da Força Terrestre".

De fato, a coesão é considerada como fundamental pelos chefes militares. Mas isso não põe fim ao desconforto, nem ao temor de que um envolvimento excessivo com o governo e na campanha acabe abalando a própria hierarquia militar.