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Michelle vira o jogo de Bolsonaro com as mulheres e causa ciúme no clã
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Nem tudo são flores no clã bolsonarista. Há -e sempre houve- uma disputa pela herança política do pai. Uma briga de poder, como qualquer outra na política, agora agravada pela entrada e pelo sucesso de Michelle Bolsonaro na campanha.
A assim chamada primeira-dama e terceira mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL) se negou o quanto podia a subir em palanques e, até, a gravar programas eleitorais. Mas a pressão do marido e a possibilidade de Lula ( PT) sair vitorioso no 1º turno, desalojando a própria Michelle e a filha do Palácio da Alvorada, fizeram-na voltar atrás.
Coincidentemente ou não, com sua atuação caíram as taxas de rejeição ao presidente entre as mulheres. Nas pesquisas, Bolsonaro avançou. Se as eleições fossem hoje, Lula já não ganharia em 1º turno.
Mas o crescimento da importância de Michelle está despertando ciúmes entre os demais membros do clã Bolsonaro. Especialmente entre os três filhos do primeiro casamento do presidente com Rogéria Nantes Nunes Braga: Flávio, o Zero Um; Carlos, o Zero Dois; e Eduardo, o Zero Três.
Michelle reapareceu em grande estilo na convenção nacional do PL que oficializou a candidatura de Bolsonaro à Presidência, no último dia 24 de julho. O comando da campanha ficou empolgado com sua atuação.
Antes do evento, havia dúvida até se ela discursaria. Ficou acertado que a primeira dama faria uma oração. Mas Michelle acabou se soltando e falou por mais tempo do que o previsto. Tornou-se o ponto alto da convenção e, daí em diante, um grande ativo para a campanha do marido.
Segundo os marqueteiros, sua presença humanizou a figura do presidente junto ao eleitor, apresentando seu lado familiar e um relacionamento não conflituoso com a figura feminina. Além, é claro, de ter aumentado a conexão de Bolsonaro com o público evangélico.
A mulher do presidente incorporou à campanha um discurso fortemente religioso. No último dia 7, em Belo Horizonte, ela radicalizou:
"Por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios e hoje consagrado ao senhor Jesus". E continuou: "É um momento muito difícil, irmãos. Não tem sido fácil. É uma briga, uma guerra do bem contra o mal. Mas eu creio que nós vamos vencer, porque Jesus já venceu na cruz e no calvário."
O temor dos filhos mais velhos de Bolsonaro é exatamente a desenvoltura com que Michelle tem se apresentado e, até, quanto a suas articulações políticas.
O marido acabou de fechar um acordo, articulado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), pela reeleição do governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), em torno de uma chapa com a ex-ministra da Secretaria de governo Flávia Arruda (PL) como candidata ao Senado.
Chegaram a anunciar que a ex-ministra da Mulher Damares Alves (Republicanos) não seria mais candidata ao Senado e iria concorrer a deputada federal. Mas Michelle não aceitou retirar a amiga da disputa. Fez Damares voltar atrás e se candidatar ao Senado e obrigou o governador e o Planalto a bancarem as duas como candidatas.
Flavio avisou ao pai que não aceita a intervenção da madrasta: pretende ir às ruas de Brasília em campanha por Flavia Arruda e contra Damares.
Bolsonaro não só acatou a exigência da mulher de recolocar a candidatura de Damares. O presidente resolveu dar mais brilho na imagem de Michelle. Declarou que se arrepende de ter deixado Fabrício Queiroz depositar cheques na conta dela. Fabrício é o ex-assessor acusado de ser o operador das rachadinhas de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio..
Em Brasília, Michelle tem outro embate engatilhado. É com Ana Cristina Valle, a mãe de Jair Renan, o filho Zero Quatro do presidente. Ela está se candidatando a deputada distrital pelo PP, com o nome de Cristina Bolsonaro. Michelle tentou barrar sua candidatura. Foi este até um dos motivos por ter resistido a entrar na campanha.
Agora que está fortalecida, cobra do marido que trabalhe contra a eleição da rival. Jair Renan, por sua vez, já avisou ao pai que, como a mãe, também pretende entrar na política para dividir o espólio eleitoral dos Bolsonaro.
A divisão desse espólio é uma grande preocupação familiar e já foi até motivo de rompimento entre Bolsonaro e dois dos filhos mais velhos. Flávio e Eduardo ficaram ao lado da mãe, Rogéria, quando esta quis concorrer a vereadora no Rio de Janeiro.
Apenas Carlos ficou ao lado do pai, contra a candidatura da mãe, e foi aí que concorreu e se elegeu pela primeira vez para a Câmara dos Vereadores do Rio.
Como autênticos parentes de líderes populistas, os filhos e as ex-mulheres de Bolsonaro acreditam que um deles poderá, no futuro, usar o legado eleitoral do pai para, quem sabe, chegar ao mesmo cargo a que ele chegou.
Na Argentina, Isabelita, a terceira mulher do caudilho Péron, conseguiu, assim como Cristina Kirchner, mulher de Néstor. No peru, Keiko, a filha de Alberto Fujimori, tem tentado seguidamente, mas ainda não conseguiu.
Por aqui, Eduardo e Flávio sempre se acharam mais colocados para herdar os poderes do pai. Agora, temem estar sendo atropelados por Michelle.
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