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Lula pressiona o BC apenas para forçar Campos Neto a negociar com Haddad
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A máxima dentro do governo é de que não existe política fiscal que dê certo se a política de juros do país estiver descasada da política econômica.
E é por isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está pressionando o presidente da Banco Central, Roberto Campos Neto, a baixar a taxa básica de juros.
Lula resolveu fazer o papel do policial mau, que força o interrogado a se entregar para o policial bom. Neste caso, o policial bom é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E Campos Neto, claro, o interrogado.
Lula faz papel de mau, pressionando o Banco Central publicamente contra alta da taxa Selic, apenas para forçar Campos Neto a negociar com Haddad pelo casamento da política de juros com a política econômica do governo.
Essa negociação é considerada decisiva para o governo conseguir aprovar no Congresso a nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos, conforme tem cobrado o mercado.
O argumento usado para explicar o risco de descasamento é de que a taxa básica de juros determinada pelo Banco Central tem influência direta sobre o aumento de gastos do Tesouro.
Se a taxa Selic permanecer acima de 10% ao longo do ano de 2023, a expectativa é de que o Tesouro pague acima de R$ 50 bilhões neste ano apenas de juros pelo serviço da dívida pública.
Isso forçaria o governo a tentar aprovar no Congresso um ajuste fiscal tão draconiano que dificilmente teria o apoio dos parlamentares. O resultado seria o rompimento entre o governo e sua base política com a consequente inviabilização do presidente da República.
A ideia é que o Banco Central produza no mercado uma expectativa de juros ao longo do ano que caiba dentro do ajuste fiscal a ser aprovado pelo Congresso. E isso só é possível quando BC e Fazenda conversam.
Lula tem como instrumento de pressão até uma ameaça de demissão do presidente do BC, já que Campos Neto não tem cumprido as metas anuais de inflação. E a simples elevação estratosférica dos juros não tem resolvido o problema.
A lei determina que, apesar de sua autonomia, a autoridade monetária pode ser afastada do cargo por incompetência em caso de descumprimento seguido da meta.
Lula sabe que este afastamento de um presidente do BC teria que ser aprovado pelo Congresso, o que é muito pouco provável que ele conseguisse. Mas vale para Campos Neto correr o risco?
Resultado: o descasamento entre a política de juros e a política econômica é ruim para ambas as partes. Daí que a pressão sobre o presidente do BC para ele negociar com Fernando Haddad pode ter algum resultado.
O ministro da Fazenda está cumprindo à risca o papel de policial bom, aquele que funciona como algodão entre o cristal do BC e o martelo do chefe do Planalto.
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