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Thaís Oyama

Teich vai afrouxar ideia de isolamento, testar cloroquina e monitoramento

O oncologista Nelson Teich, novo ministro da Saúde: esqueçam o que eu escrevi - Alan Santos/Presidência da República
O oncologista Nelson Teich, novo ministro da Saúde: esqueçam o que eu escrevi Imagem: Alan Santos/Presidência da República

Colunista do UOL

16/04/2020 19h43

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Resumo da notícia

  • Presidente examinou opiniões do novo ministro da Saúde sobre a pandemia
  • Bolsonaro e Teich fizeram acordo sobre condução da recomendação de isolamento
  • Setores produtivos devem ganhar apoio ao trabalho; serviços ficam para 2º momento
  • Ministério vai seguir acompanhando estudos sobre uso da cloroquina contra covid-19
  • Presidente cedeu em relação ao monitoramento da população via celulares

Acabou a novela.

Foram mais de trinta dias de embate público entre o presidente da República e o ministro da Saúde - uma sucessão de pronunciamentos belicosos, coletivas copiosas, provocações e sapatadas de lado a lado.

Luiz Henrique Mandetta está fora.

A questão que importa agora: ao demitir Mandetta e escolher Nelson Teich, Bolsonaro "livrou-se" de um problema para contratar outro igual?

O substituto de Mandetta na pasta da Saúde, Nelson Teich, já se declarou publicamente contra o isolamento vertical. O oncologista carioca também se diz a favor do monitoramento da população por meio dos celulares como forma de ajudar no combate à pandemia.

São duas posições incompatíveis com as do presidente da República.

Até as estátuas da Esplanada dos Ministérios sabem que Bolsonaro é contra a permanência da população em casa e o fechamento das lojas, escolas e indústrias.

Mais que isso: Bolsonaro também é contra o uso de dados de geolocalização do celular para traçar políticas de enfrentamento do coronavírus. O plano de usar dados de celulares para monitorar o deslocamento das pessoas durante a pandemia já estava pronto e amarrado com quatro operadoras de telefonia celular, mas foi abortado na última hora por ordem do ex-capitão, conforme anunciou há três dias um constrangido Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia.

Isso quer dizer que o novo ministro da Saúde irá repetir o velho ministro da Saúde e contrariar Bolsonaro nas questões que são fundamentais para ele?

Não.

Antes de decidir por Nelson Teich, Bolsonaro recebeu tudo o que o médico escreveu sobre a pandemia.

Recebeu também sinalizações de que Teich aceitaria "conversar".

E depois da conversarem, presidente e médico chegaram a um acordo.

O novo ministro vai implementar "paulatinamente" as medidas defendidas por Bolsonaro -tanto as que dizem respeito às recomendações de afrouxamento do isolamento (que agora não poderão passar de "recomendações", diante da decisão de ontem do STF, de reconhecer a autoridade dos governadores nessa questão) quanto as referentes à ampliação do uso da cloroquina. Bolsonaro, por seu lado, irá ceder em aspectos do monitoramento via dados de geolocalização por celular.

Nada disso, no entanto, será feito de forma brusca. Não vai haver cavalo de pau. "Para não assustar", como diz um assessor militar palaciano.

As recomendações para suspensão do isolamento vão começar pelo setor produtivo, diz o assessor. Escolas, bares e restaurantes podem esperar.

A cloroquina não passará a ser receitada indiscriminadamente e a partir de agora, mas o novo ministro "vai possibilitar que o remédio seja testado, com acompanhamento médico".

Vai funcionar?

Bolsonaro e assessores acham que sim.

Pelo menos até que comece a troca de sapatadas.