A chance que Bolsonaro perdeu ao não ter de mostrar seus exames
Quando o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro sofreu um atentado à faca, em setembro de 2018, a ordem que deu aos filhos e assessores foi para que tratassem do assunto com transparência. Mandou divulgar cada informação sobre as suas internações, cirurgias e evoluções de quadro, incluindo se havia tido enjoos, almoçado e evacuado. Posou para fotos com sonda nasal, bolsa de colostomia e barriga de fora.
Bolsonaro não teve receio de se expor e nada escondeu do público.
Agora presidente, e suspeito de ter se contaminado pelo coronavírus, fez tudo diferente. Líder de uma comitiva que voltou dos Estados Unidos com 23 infectados, o ex-capitão se recusou a mostrar os resultados dos seus exames. Limitou-se a dizer no Twitter que deram negativo. Quando o jornal "O Estado de S.Paulo" obteve na Justiça o direito de ter acesso aos laudos, Bolsonaro mobilizou seus advogados e o aparato da Advocacia Geral da União para escondê-los.
"Isso pertence à minha intimidade", afirmou.
O presidente aparenta estar bem de saúde.
O pedido de entrega dos laudos, portanto, não se deve à suspeita de que ele padece da doença que já matou 10 mil brasileiros.
Tampouco a apresentação dos testes serviria para dizer se o ex-capitão pode estar contaminando as pessoas de quem se aproxima hoje. Os exames cuja entrega a Justiça determinou foram feitos nos dias 12 e 17 de março — há quase dois meses, portanto. É tempo suficiente para que o examinado tenha deixado de ser um transmissor (o que não elimina a possibilidade de Bolsonaro ter contraído o vírus depois dessas datas e estar infectando pessoas nas aglomerações que insiste em promover, mas isso já não tem nada a ver com os testes em questão).
Se a preocupação não é com a saúde do presidente nem com a possibilidade de os laudos mostrarem que ele anda espalhando o coronavírus por aí, para que serve a sua apresentação?
Serve para os brasileiros se assegurarem de que, quando afirmou que seus testes deram negativo, o presidente da República disse a verdade.
Na semana passada, Bolsonaro determinou à AGU que recorresse pela segunda vez da ordem judicial para que mostrasse os testes. Na sexta-feira, o ministro do STJ Otavio Noronha decidiu que essa obrigatoriedade "feriria os direitos civis" do presidente.
Bolsonaro não terá de mostrar os seus exames. Mas, ao ganhar a briga na Justiça, perdeu a chance de mostrar ao país que não é um mentiroso.
66 Comentários
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Nobre jornalista Thaís Oyama, em qualquer democracia, o ônus da prova cabe a quem acusa. ... Nós sempre devemos partir do princípio de que todos somos inocentes até que se prove em contrário, e não que todos somos culpados até que consigamos provar que somos inocentes. Isso é fundamental para a democracia. O nosso presidente não tem que provar nada, ele disse que testou negativo, e daí? s interessados que busquem provar o contrário.
eu quero é resultado não do exame mas sim de um futuro melhor...e vocês cães ou querem ? morder o que puderem mídia e todos os chupins do dinheiro publico, basta saber quem calunia em bolsonaro pra saber a natureza destas pessoas, um cara contra todo um sistema corrupto, que não consegue governar, que ninguém conseguiu provar nada de ilícito, quem os cães queriam no poder quem??? brasileiros patriotas sabem bem disso e ja tem uma posição bem definida.