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Thaís Oyama

Bolsonaro, o "pai dos pobres"

Colunista do UOL

26/06/2020 11h25

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Jair Bolsonaro quer o Nordeste.

E não por outro motivo escolheu a cidade cearense de Juazeiro do Norte como primeiro destino da série de viagens que planeja fazer pelo país a partir de agora.

Desde março, assessores presidenciais trabalham numa estratégia para ocupar politicamente o que um deles define como "esse enorme espaço vazio que o PT não tem mais condições de segurar sem os instrumentos de Estado".

O tradicional reduto de Lula foi a única região do Brasil em que Bolsonaro saiu derrotado em todos os estados no segundo turno da eleição presidencial de 2018.

Mas isso foi antes do auxílio emergencial de 600 reais.

"Hoje, o Nordeste é um campo fértil esperando que o governo faça a colheita", diz um militar que assessora o presidente. As viagens pela região não serão a única ferramenta para a "colheita".

Circula no governo a ideia de criar a Secretaria Especial do Semiárido. Ela estaria ligada diretamente à Presidência da República e serviria para integrar e dar visibilidade às ações ministeriais já em curso na área.

O argumento dos defensores da iniciativa é que boa parte dos recursos destinados ao Nordeste fica no litoral, com índices de desenvolvimento muito superiores às áreas de menor índice pluviométrico.

Nesse movimento em direção ao Nordeste, o governo não está sendo guiado só pelo cheiro.

Monitoramento sobre a avaliação do governo feito pela consultoria Ideia Big Data na última semana mostrou os mesmíssimos números da semana anterior. Isso corrobora a conclusão da pesquisa Datafolha divulgada hoje: os últimos acontecimentos do caso Queiroz tiveram efeito zero na popularidade do presidente.

Mas no monitoramento do Ideia Big Data há dois números que ficaram fora da margem.

No quesito "aprovação de governo", Bolsonaro perdeu quatro pontos nas classes A e B.

E GANHOU cinco pontos no Nordeste, entre as classes D e E.

São grandes as chances de o ex-capitão continuar aumentando sua popularidade na região. Sendo a mais pobre do Brasil, a maior parte do eleitorado local tem na sobrevivência a sua prioridade.

Dessa forma, nos discursos que fará em suas andanças, o presidente nem precisa se preocupar em tocar em assuntos hoje constrangedores para ele.

Com um chapéu de couro numa mão e o coronavoucher na outra, pode até ignorar as bandeiras de campanha que deixou para trás, entre elas a promessa de acabar com a corrupção, brigar pela transparência nas ações de governo e, claro, combater a "velha política" — aquela baseada na cooptação de aliados em troca de cargos e de votos em troca de um saco de arroz.