Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Por que entre Zuckerberg e Ernesto Araújo é melhor ficar com o segundo
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Mario Frias bateu no peito outro dia.
"Não admitirei qualquer tipo de censura", disse o ex-ator da série Malhação e agora secretário de Cultura do governo Bolsonaro ao se referir ao bloqueio de um blogueiro bolsonarista no Youtube.
Hoje, reportagem do jornal O Globo diz que o Brasil se prepara para levar ao G-20 e à Assembleia Geral da ONU propostas para combater o que o chanceler Ernesto Araújo chama de "tecnototalitarismo".
É bom que o governo do Brasil encampe o debate sobre os superpoderes dos gigantes digitais — em especial o de calar quem eles bem entendem no momento que acharem mais conveniente.
Pena que a iniciativa seja inútil.
Primeiro porque, aos olhos do mundo civilizado, o Brasil de Jair Bolsonaro encarna hoje pouco menos que o mal absoluto - representa a negação de todos os valores triunfantes da atualidade (sendo o da preservação do meio ambiente apenas o mais visível).
Assim, em termos práticos, qualquer bandeira que o país levantar em qualquer fórum internacional será, de cara, uma bandeira chamuscada.
Depois, porque todo empenho do chanceler Araújo em eleger as Big Techs as inimigas da temporada nasceu do banimento do republicano Donald Trump do Twitter -e, mais recentemente do bloqueio de blogueiros bolsonaristas em algumas plataformas.
Quem, como esta colunista, acredita que Trump foi vítima de censura de magnatas digitais mais interessados em aproveitar os ventos democratas para inflar seu rentável negócio do que em purificar o mundo de republicanos malvados, é obrigada também a tolerar que um blogueiro bolsonarista dissemine em suas redes sociais mentiras deslavadas ou desvarios como o de que o ex-presidente americano "ganhou as eleições, mas está fingindo que perdeu para confirmar fraude no processo eleitoral".
Faz parte do preço de viver em uma sociedade livre ouvir coisas odiosas ou simplesmente idiotas.
A ditadura militar censurava as manifestações "subversivas" dos oponentes do regime a pretexto de proteger a sociedade do perigo comunista.
Parte da esquerda agora defende que Mark Zuckerberg censure blogueiros bolsonaristas para proteger a sociedade das fake news.
Ao fim e ao cabo, todo censor se escora no argumento de que age em nome do bem (o que não o impede de sentir uma secreta alegria diante da visão do adversário de bico amordaçado).
O problema é quem cala hoje pode ser calado amanhã.
Os oponentes do governo bem poderiam se lembrar disso e tomar logo das mãos do chanceler Araújo a bandeira do "anti-tecnototalitarismo", antes que o bolsonarismo a arraste para a lama.
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