Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro pode contar com toda a má vontade de Lira para o impeachment
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Arthur Lira tem mais que 11 bilhões de motivos para segurar o impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Além do controle direto dos recursos do Orçamento da União, com cujos farelos faz a alegria dos líderes de partidos, que, por sua vez, satisfazem com o farelo dos farelos os deputados ávidos por azeitar suas bases nos estados, o presidente da Câmara tem dois sólidos pretextos para manter Bolsonaro onde está.
O primeiro é que a oposição pode até ter 64% dos votos nas urnas (a soma dos índices dos potenciais adversários do ex-capitão na última pesquisa do Ipec), mas não tem hoje os 342 votos na Câmara necessários para afastar o presidente. Tem entre 150 a 200, a contar pelos resultados que obteve nos últimos embates com o governo em plenário.
O segundo pretexto para Lira continuar sentado sobre os pedidos e "superpedidos" de impeachment lhe foi dado de bandeja pela CPI da Covid, conforme antecipou esta coluna.
Ao enviar à Justiça a notícia-crime que acusa Bolsonaro do crime de prevaricação, os autores da petição "desincumbiram" Lira da tarefa de investigar o ex-capitão por suas atitudes na pandemia.
O fato de um presidente poder, ao mesmo tempo, responder por crime comum na Justiça e por crime de responsabilidade no Congresso passou a ser irrelevante na narrativa que Lira tratou de abraçar tão logo a notícia-crime aterrissou na Procuradoria-Geral da República, onde corre o risco de mofar até o fim da CPI.
"A questão agora virou judicial", disse um satisfeito Lira. "Agora é esperar o posicionamento do procurador e a gente acatar o que o procurador decidir".
Dado que o funcionamento da comissão deverá ser prorrogado, eis a situação que se avista: a CPI demora mais três meses para acabar, a Procuradoria aguarda o fim da CPI para se manifestar, e Lira espera "o posicionamento do procurador" Augusto Aras para se mexer (apenas para, ao fim e ao cabo, "acatar" o que ele decidir, sendo que ninguém espera outra coisa de Aras que não continuar fazendo o que Bolsonaro quer).
Quanto à oposição que clama pelo impeachment, será que, no fundo, no fundo, ao menos parte dela não prefere disputar a eleição com um enfraquecido Jair Bolsonaro do que com um candidato com potencial desconhecido como um Sergio Moro?
Pedir é uma coisa, querer é outra.
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