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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Áudio atesta: Bolsonaro nunca foi honesto, faltou chance para se corromper

O presidente Jair Bolsonaro: não era virtude, mas determinação do mercado - Reprodução TV
O presidente Jair Bolsonaro: não era virtude, mas determinação do mercado Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

05/07/2021 11h50Atualizada em 05/07/2021 17h48

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Andrea Siqueira Valle é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda mulher de Jair Bolsonaro e mãe de Jair Renan Bolsonaro, o filho Zero Quatro do presidente.

Gravações de Andrea, reveladas pela repórter Juliana Dal Piva, do UOL, mostram que o esquema de rachadinhas até agora atribuído a Flávio Bolsonaro era na verdade liderado por seu pai, Jair Bolsonaro, "o zero um" do negócio, segundo afirmou a ex-cunhada do presidente.

Não é exatamente uma surpresa. Os cheques depositados por Fabrício Queiroz, assessor de Flávio, na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro já indicavam que Bolsonaro não apenas estava ciente do esquema como havia se locupletado dele.

A participação do presidente na rachadinha era, portanto, um segredo de polichinelo — mas era ainda um segredo. E vinha sendo mantido assim à custa de não pouco esforço.

Desde que se separaram, Ana Cristina e Jair Bolsonaro sempre mantiveram péssimas relações. Quando ela quis se candidatar a deputada federal pelo Rio nas eleições de 2018 usando o sobrenome Bolsonaro, o ex-capitão ficou furioso.

Foi Flávio, o mais pragmático dos irmãos, quem intermediou a crise e terminou por convencer o pai a desistir de impedir a ex-mulher de concorrer com seu nome (ela não se elegeu). Evidentemente, o hoje senador não fez isso por amor à ex-madrasta, mas para evitar que ela, por vingança, contasse o que sabia e do que participou. Enquanto Bolsonaro foi deputado, 17 parentes de Ana Cristina, além dela própria, ganharam cargos comissionados em três gabinetes da família Bolsonaro, incluindo o do vereador Carlos Bolsonaro. Agora, o UOL revela a confissão, gravada e inconteste, de um desses parentes. É a primeira vez que alguém envolve Bolsonaro diretamente no esquema.

A Constituição impede que um presidente da República seja processado por acusação de crime comum supostamente cometido fora do seu mandato. Assim, a revelação dos áudios de Andrea Siqueira Valle não deverá ter consequências jurídicas imediatas para Bolsonaro.

Tampouco deverá abalar o apoio de que o presidente goza junto à sua base mais sólida. Os bolsonaristas-raiz, que tanta coisa já engoliram do ex-capitão, deverão relevar essa também. Dirão que "o PT roubou bilhões", que rachadinha "todo mundo faz" e que a reportagem é mais uma tentativa de perseguir Bolsonaro.

O que os apoiadores incondicionais do presidente não conseguirão evitar é a voz da verdade que, no íntimo de suas consciências, sussurrará: o Mito nunca foi honesto.

E se durante os quase 30 anos de mandato parlamentar não se envolveu nos grandes esquemas de corrupção que assolaram o país foi porque não foi convidado.

Diz um ditado hoje banido pelos novos parâmetros da fineza e da educação que mulheres feias são fieis ao marido não por força da virtude, mas por falta de mercado.

Bolsonaro sempre foi a mulher feia e seus apoiadores terão de dormir com essa.