Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Por que Bolsonaro é a "mulher feia" e o preconceito contra os sem-beleza
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A propósito das revelações feitas ontem pelo UOL, que sugerem ser o presidente Jair Bolsonaro o número 1 da rachadinha da família, escrevi que isso é mais um indício de que o ex-capitão só não chafurdou na grande corrupção quando era deputado porque as propostas de rachadonas não chegavam ao baixo clero, onde ele sempre esteve enquanto parlamentar. Para ilustrar a afirmação, comparei o presidente à "mulher feia" do ditado — aquela que "não é fiel ao marido por força da virtude, mas por falta de mercado".
Coincidentemente, João Pereira Coutinho, em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, comentou o surgimento de uma nova incorreção política denominada "lookism", o preconceito contra os feios.
Com a elegância habitual, Coutinho lembrou que o fraco pelo belo não é um traço propriamente recente do ser humano e, fazendo graça, sugeriu a criação de um sistema de cotas destinado a essa minoria emergente — os desprovidos de beleza, como se diz na nova locução educada.
Como há algum tempo, e não apenas no Brasil, a realidade teima em invadir o terreno das piadas, penso que a ironia de Coutinho pode em breve se materializar. Haverá cotas não só para os desprovidos de beleza, mas também para os desprovidos de cobertura capilar e de capacidade de cognição (ou, na antiga linguagem ultrajante, cotas para carecas; e para burros e burras, ou melhor, burres).
O combate à intolerância e a luta pela inclusão dos excluídos é um ganho universal e uma conquista civilizatória, ainda que aqueles que marchem pela causa vez ou outra acabem pisoteando a cabeça de quem diverge deles em algum ponto.
Isso porque, na festa da diversidade, a de pensamento, infelizmente, até agora continua de fora.
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