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Ruas vazias levam impeachment de volta ao banho-maria
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O esvaziamento das manifestações contra Jair Bolsonaro, epitomizado pelos 6 mil gatos pingados que foram ontem à avenida Paulista, deixaram claro que as forças políticas de oposição ao governo ou não têm força para puxar o impeachment do ex-capitão, como demonstraram MBL e Vem pra Rua, ou não têm disposição, caso do ausente PT de Lula.
A carta do impeachment — que o próprio Bolsonaro colocou na mesa no dia 7 de setembro e tentou enfiar outra vez no bolso no dia seguinte com a Declaração à Nação— só entra de fato no jogo quando as ruas rugem, como mostraram as quedas de Fernando Collor e Dilma Rousseff.
E o contrário, a ausência de manifestações vigorosas, como lembrou reportagem da Folha de ontem, é capaz de manter de pé mesmo presidentes com alta reprovação nas pesquisas, como Michel Temer, que quando foi ameaçado de afastamento tinha 71% de avaliações negativas (Bolsonaro tem 51%, segundo o Datafolha).
Mas o esvaziamento das ruas não é a única condição a favorecer a permanência da cabeça de Bolsonaro sobre os ombros.
Como lembra um artífice do Centrão, nos processos em que caíram Collor e Dilma, as alternativas de substituição ao presidente recaíam sobre dois nomes "da política", os então vice-presidentes Itamar Franco e Michel Temer.
Entenda-se por "da política", entre outras coisas, gente que compreende a dinâmica do Congresso e sabe o que faz oscilar o humor e as convicções da maior parte dos parlamentares. Na visão de lideranças do Centrão, esse não é o caso do vice-presidente Hamilton Mourão.
O general, filiado a um partido nanico, sem interlocução com o Congresso e — para muitos, pior do mundos— apoiador inconfesso do ex-ministro Sergio Moro e da Lava Jato, é tudo o que o bloco de partidos aliados ao governo não gostaria de ver no poder.
Como diz uma liderança do Centrão, a única pergunta que importa a integrantes do bloco é: "O substituto de Bolsonaro vai continuar pagando as emendas RP-9?".
A sigla RP-9 denomina as bilionárias emendas do relator ao Orçamento, cuja distribuição está hoje concentrada nas mãos do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira — líder do Centrão e dono do "botão amarelo" do impeachment.
Não havendo ruas nem disposição da base de apoio do governo para matar a sua galinha dos ovos de ouro, Bolsonaro — ao menos enquanto lhe permitirem os rumos da economia— deve se manter onde está, segurando-se nos 24% de apoio dos bolsonaristas incorrigíveis.
Que, mesmo traídos, humilhados e ridicularizados pelo ex-capitão, já demonstraram precisar apenas de uma mentira mal contada para continuar seguindo um líder que não sabe para onde está indo.
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