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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tucanos chacoalham árvore para ver se Doria cai; governador segue com 2%

O governador de São Paulo, Joao Doria: obstinado  - Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
O governador de São Paulo, Joao Doria: obstinado Imagem: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

09/02/2022 11h32

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"O candidato à presidência pode alavancar ou contaminar todo o partido".

Com esse argumento no centro da mesa, tucanos da chamada ala histórica do PSDB jantaram ontem na casa do ex-ministro Pimenta da Veiga para a mais explícita tentativa de balançar a árvore onde o governador de São Paulo, João Doria, se equilibra com 2% das intenções de voto.

Para caciques presentes à reunião, o PSDB — já ameaçado de perder uma dezena de deputados que cogitam aproveitar a janela partidária de março para trocar de sigla— corre o risco de ter um desempenho pífio nas eleições e ser arrastado para a irrelevância caso mantenha como candidato à Presidência um nome com 34% de taxa de rejeição.

O governador João Doria derrotou o colega gaúcho Eduardo Leite nas prévias do partido realizadas em novembro, com resultado reconhecido pelos dois lados. Agora, porém, o coro combinado entre os presentes ao jantar — que, além do anfitrião, contou com dois outros ex-presidentes do PSDB, os senadores Tasso Jereissati e José Aníbal— é de que "as prévias não deram o partido ao candidato, mas um candidato ao partido".

Assim, caberá ao atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, descascar o abacaxi.

O grupo anti-Doria decidiu que cobrará dele a definição de "um plano de voo" para que a sigla amplie suas alianças, analise a formação de uma federação e evite defecções durante a janela partidária.

Sobretudo, será cobrado do presidente do PSDB que "prove" a viabilidade de Doria, cuja campanha ele aceitou coordenar.

Caso essa viabilidade não seja atestada, o grupo cogita a tentativa de convocar uma convenção extraordinária que, na prática, poderia anular o resultado das prévias de novembro, conforme antecipou esta coluna ("Cresce movimento no PSDB para Doria desistir da candidatura à Presidência").

A hipótese abriria caminho para a volta do nome de Eduardo Leite, que, também presente ao jantar, negou a possibilidade de deixar o partido (ele foi convidado por Gilberto Kassab a mudar-se para o PSD e concorrer à Presidência pela sigla).

Outra forma de o grupo tirar o governador de São Paulo de cena, também discutida no encontro, seria pela via da federação.

Uma hipotética aliança do PSDB com o União Brasil e o MDB, por exemplo, na interpretação de uma liderança anti-Doria, isentaria o partido de qualquer compromisso com o resultado das prévias.

"Neste caso, é lógico que a escolha dos nomes da chapa terá de ser uma decisão não do PSDB, mas das siglas federadas", afirmou o tucano. O nome da senadora Simone Tebet — na cabeça de chapa ou na vice— aparece nesse contexto e tem no senador Tasso Jereissati um dos seus principais defensores.

Em entrevista hoje pela manhã, o governador João Doria referiu-se à reunião dos tucanos contrários à sua candidatura como um "jantar de derrotados. Disse que o "PSDB é maior do que cinco pessoas" e reafirmou a crença de que ainda subirá nas pesquisas. "As pessoas ainda não estão preocupadas com a eleição".

O jantar de ontem, a pressão de candidatos do partido que se acham prejudicados pela rejeição ao nome do governador e a divulgação da pesquisa da Quaest, que mostra a permanência de Doria no mesmo patamar de 2%, já fez descer da árvore ao menos um aliado importante do governador.

Nada indica que ele pretenda fazer o mesmo. Reconhecido obstinado, João Doria só sai da árvore descido.