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Para evangélicos, fala de "ditadura gayzista" de Bolsonaro ecoará menos
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"Eu dirijo a nação para o lado que os senhores assim o desejarem", declarou o presidente Jair Bolsonaro a dezenas de pastores evangélicos ontem no Palácio da Alvorada, em evento que teve a presença de ministros e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Praticamente empatado nas pesquisas com o ex-presidente Lula na preferência de cristãos evangélicos, Bolsonaro continua ganhando do petista entre os seguidores da vertente neopentecostal.
O motivo disso, segundo especialistas, é que os eleitores pentecostais e neopentencostais, por serem em sua maioria conservadores, pertencentes às camadas populares e moradores das periferias das metrópoles, preocupam-se mais do que os outros com questões como o aborto, segurança pública e educação sexual nas escolas.
E, nesses temas, Bolsonaro segue nadando sozinho e de braçada. "Ele sabe simplificar, exagerar e distorcer ideias, e faz isso especialmente bem em relação às pautas morais e ao tema da segurança. Por causa disso, muitos brasileiros acreditam que a esquerda é contra a família tradicional e protege bandidos", afirma o cientista político Victor Araujo no site Observatório Evangélico.
No mesmo site, o pastor e doutor em Ciências da Religião Kenner Terra afirma: "Algumas fake news que circulam em grupos [de WhatsApp] evangélicos argumentam que a escolha de qualquer candidato que não seja Bolsonaro conduzirá à implantação de uma "ditadura gayzista" — esse é o termo que eles usam".
A ideia repisada nessas mensagens, diz Terra, é de que "qualquer presidente que não defenda a família tradicional, apoiará ou fará vistas grossas para a "doutrinação" nas escolas de que homens podem se casar com homens e mulheres com mulheres".
Evangélicos neopentecostais são parte do tripé de sustentação de Bolsonaro desde o início do governo (as outras duas partes são os eleitores ligados ao agronegócio e os chamados "bolsonaristas-raiz", majoritariamente homens, com curso superior e moradores das metrópoles).
E é para não perder esse fundamental apoio que Bolsonaro promete dirigir a nação para onde os evangélicos quiserem.
Dois fenômenos, porém, jogam contra os esforços do ex-capitão para continuar merecendo as graças desse público.
A primeira é que seus adversários na eleição presidencial deste ano estão encontrando caminhos para penetrar no segmento sem melindrar suas bases mais "progressistas".
O PT, por exemplo, montou "núcleos evangélicos" em 21 estados com o principal objetivo de quebrar a resistência de pentecostais e neopentecostais a Lula. O petista conquistou ainda o apoio do pastor Paulo Marcelo Schallenberger, ligado à Assembleia de Deus, majoritariamente apoiadora de Bolsonaro.
Ciro Gomes (PDT), recentemente, passou a frequentar cultos pentecostais, escoltado pelo pastor Cabo Daciolo, e no ano passado chegou a gravar um vídeo em que aparecia com uma Bíblia e uma Constituição em cada mão. "Se observarmos bem, veremos que ideias centrais do cristianismo inspiram a vida de todos", recitou.
Mesmo Sergio Moro (Podemos) parece ter achado um caminho para equilibrar-se sobre o conservadorismo evangélico. Na "Carta de Princípios Cristãos" que divulgou no mês passado, o ex-juiz prometeu "preservar crianças e adolescentes da sexualização precoce" e respeitar "as preferências afetivas e sexuais de cada indivíduo".
A eclosão da guerra na Ucrânia é o segundo fenômeno a jogar contra a influência das pautas de costumes bolsonaristas no voto dos pentecostais. Com o iminente agravamento da situação econômica causado pelo conflito, inflação, fome e desemprego serão as preocupações determinantes do eleitor mais pobre. As questões morais ficarão para depois.
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