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Surpreendente salto de Bolsonaro entre evangélicos coincide com caso MEC
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Não é coincidência.
Nesta semana, o Estadão revelou a existência de um balcão de negócios no Ministério da Educação operado por dois pastores evangélicos. Ligados à Assembleia de Deus, eles intermediariam a liberação de recursos da pasta em favor de políticos próximos a eles e aliados do governo.
Hoje, pesquisa Exame/Ideia mostra que continua tudo igual no cenário das eleições presidenciais (Lula na frente, Jair Bolsonaro atrás, terceira via irrelevante) — menos num quesito.
Segundo o instituto, a intenção de votos pró-Bolsonaro entre os eleitores que se denominam evangélicos subiu incríveis 19 pontos em um único mês.
Da mesma forma, no período, o segmento dos evangélicos que avalia o governo como "ótimo" e "bom" cresceu de 32% para 50%. São saltos extraordinários, destoantes da monótona paisagem das pesquisas recentes.
E o que explica esses saltos?
Alguns eventos servem de pista.
Neste mês, como revelou a Folha, a Igreja Universal do Reino de Deus passou a usar seu jornal, Folha Universal, para atacar o principal concorrente do presidente Bolsonaro, o ex-presidente Lula. Num dos últimos textos, ilustrado com um desenho de garras do diabo, o petista é descrito como "símbolo da corrupção e da degradação da família cristã". A Folha Universal tem tiragem semanal de 1,7 milhão de exemplares.
Há uma semana, o pastor Claudio Duarte — como os pastores do MEC, ligado ao ministério Madureira da Assembleia de Deus — publicou um vídeo no Instagram declarando seu apoio a Jair Bolsonaro.Vestido com a camisa da seleção brasileira de futebol, o pastor diz que não irá "negociar com o pecado". Claudio Duarte é um dos maiores influenciadores da internet entre os evangélicos, com 13 milhões de seguidores nas redes sociais.
Esses dois episódios — os ataques impressos da Igreja Universal a Lula e o vídeo do pastor-celebridade da Assembleia de Deus em defesa de Bolsonaro — foram precedidos pela agora notória reunião no Palácio da Alvorada em que o presidente, diante de dezenas de pastores evangélicos, prometeu dirigir "a nação para o lado que os senhores assim o desejarem".
"Não são atos isolados", afirma Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política e pesquisador especializado em religião e comportamento político. "As iniciativas pró-Bolsonaro adotadas nas últimas semanas pela Universal e a Assembleia de Deus e a reunião dos pastores no Palácio mostram que está em curso uma reorganização dos campos evangélicos destinada a alavancar o apoio ao presidente".
O inédito salto de Bolsonaro entre os evangélicos apontado na pesquisa Exame/Ideia mostra que as lideranças das igrejas estão fazendo a sua parte. O risco para elas, e para o presidente, é de que agora, com a revelação do conluio entre o governo e pastores para direcionar as verbas do MEC, os fieis liguem lé com cré e sintam na boca o amargo gostinho de terem sido abusados na sua fé.
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