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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quem demitiu Milton Ribeiro não foi o presidente, mas o candidato Bolsonaro

O agora ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro - Luis Fortes/Ministério da Educação
O agora ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro Imagem: Luis Fortes/Ministério da Educação

Colunista do UOL

28/03/2022 12h36

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Em sua live da última quinta-feira, Jair Bolsonaro disse que botava a "cara inteira no fogo" pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, chamuscado no escândalo dos pastores do MEC. Hoje, decidiu demiti-lo.

A decisão do presidente Bolsonaro é uma rendição ao candidato Bolsonaro, convencido pelo seu núcleo político de que, a oito meses das eleições, o governo não pode desperdiçar tempo em crises autoalimentadas.

E esta já está cobrando a sua conta.

Desde a eclosão, na semana passada, da notícia de que lideranças da Assembleia de Deus negociavam no MEC a liberação de verbas para prefeitos próximos ao governo em troca de propinas e barras de ouro, pastores evangélicos pararam de falar de política nos cultos.

Não é um prejuízo pequeno para o candidato Bolsonaro.

No último mês, ministérios importantes da Assembleia de Deus, unidos a representantes da Igreja Universal do Reino de Deus, vinham se dedicando a desferir massivos ataques contra o principal rival de Bolsonaro nas eleições, o ex-presidente Lula.

Ao mesmo tempo, pastores-celebridade como Claudio Duarte (13 milhões de seguidores nas redes sociais) declaravam apoio público ao ex-capitão. O conjunto das investidas teve reflexos imediatos nas pesquisas de opinião, com a melhora significativa da avaliação de Bolsonaro no segmento evangélico.

Agora, todo esse movimento parou.

"Os pastores estão ressabiados e esperando para ver qual a extensão do escândalo e a quem ele atingirá", afirma um observador do universo evangélico. E, embora até o momento a notícia das propinas e das barras de ouro não tenha virado assunto nos salões de cultos, a tendência é de que o escândalo dos pastores fortaleça a ala dos fieis refratária à mistura da religião com a política — aquela que, diante de um pastor que defende tal ou qual candidato, diz que "não é para isso" que vem à igreja.

Bolsonaro precisa desesperadamente do voto evangélico para alavancar sua campanha. A cabeça de Milton Ribeiro é um preço barato a pagar por isso.