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Ida de Bolsonaro ao Piauí, feudo de Lula, será "desembarque da Normandia"
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A primeira grande viagem do presidente Jair Bolsonaro desde que se lançou pré-candidato à reeleição será, nas palavras de um colaborador, o seu "desembarque da Normandia".
A hipérbole deriva do fato de que, assim como ocorreu durante a Segunda Guerra com as forças aliadas no dia "D", Bolsonaro — agora em assumida campanha— adentrará em território fundamental e dominado pelo inimigo em condições francamente adversas.
O ex-capitão passará por Parnamirim, no Rio Grande do Norte, e seguirá para uma fazenda em Baixa Grande Ribeiro, no Piauí.
No estado, segundo levantamento feito em outubro do ano passado pelo PoderData, ele é considerado "ruim" ou "péssimo" por nada menos que 64% do eleitores.
Até o momento, nem o Auxílio Brasil foi capaz de melhorar essa avaliação.
Um recorte da pesquisa Datafolha divulgado ontem confirmou os piores temores do governo: o de que a distribuição do benefício de R$ 400, corroído pela inflação e pelo aumento dos combustíveis, pode ser inócua para alavancar a popularidade presidencial. Segundo o Datafolha, 68% dos brasileiros que recebem o auxílio consideram o valor de R$ 400 insuficiente — 37% dos beneficiários do programa moram na região Nordeste.
O Piauí é a terra natal do poderoso ministro Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil do governo. Na visita de Bolsonaro hoje, caberá a ele o papel de anfitrião, dado que o ex-capitão não tem palanque no estado e Silvio Mendes, o candidato de Nogueira à sucessão do governador petista Wellington Dias, já avisou que não dará as caras, receoso de ser contaminado pela radioativa rejeição presidencial.
Sem palanque, sem apoio popular e nem multidões para compor boas fotos, Bolsonaro discursará nos limites de uma fazenda, com o objetivo principal de testar, por meio da repercussão na imprensa e nas redes sociais, os argumentos para o confronto retórico que travará com Lula a partir de agora.
Um desses argumentos será o de que o ex-presidente "fez coisas boas, mas fez muitas coisas ruins também" — um discurso que, sem ignorar a popularidade do petista na região, visa a reavivar os escândalos de corrupção que assolaram o seu governo.
Sobre ele próprio, Bolsonaro dirá que "só não fez mais coisas boas" porque teve de enfrentar uma pandemia e uma guerra, mas ao menos "não roubou e não deixou roubar".
Será, mais uma vez, a fala do "bem contra o mal", do "virtuoso contra o corrupto", agora testada em solo nordestino — onde o ex-capitão precisa desesperadamente diminuir sua desvantagem de mais de 30 pontos em relação a Lula.
A partir de agora, o presidente Bolsonaro está de férias. E o pré-candidato Bolsonaro promete trabalhar duro.
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