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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falas de eleitores mostram que Lula acendeu fósforo sobre barril de pólvora

O ex-presidente Lula: frase infeliz e tiro no pé - Reprodução/Twitter
O ex-presidente Lula: frase infeliz e tiro no pé Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

06/04/2022 10h39

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Lula brincou com fogo.

Na última segunda-feira, em evento na CUT, o ex-presidente sugeriu à plateia que fosse às casas de deputados para "incomodar a tranquilidade" deles e de seus familiares.

"Se a gente mapeasse o endereço de cada deputado e fossem 50 pessoas na casa, não é para xingar não, é para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho dele, incomodar a tranquilidade dele. Surte muito mais efeito do que fazer a manifestação em Brasília".

Ontem, o petista teve uma mostra da repercussão de sua fala.

Dois deputados bolsonaristas, Junio Amaral e Carla Zambelli, ambos do PL, ameaçaram usar armas se suas famílias forem "incomodadas" por militantes petistas.

Amaral, ex-policial militar eleito com a graduação "cabo" no nome, insinuou suas péssimas intenções em um vídeo em que aparece carregando uma pistola. A sempre pouco serena Zambelli foi direta: prometeu "pregar bala" em quem seguisse o conselho de Lula.

Pesquisadores de institutos de opinião dizem estar impressionados com o que têm ouvido nas rodadas de pesquisas qualitativas — aquelas feitas com pequenos grupos de eleitores para avaliar seus comportamentos e expectativas.

Um deles conta que, numa rodada recente feita em Manaus, ouviu entrevistados repetirem frases como "se eu visse Fulano (rival de seu candidato), eu arrebentaria". E variantes como: "Fulano é um maldito", "é um f.d.p". No Rio de Janeiro, etapa seguinte do trabalho, falas semelhantes de eleitores apareceram com a mesma frequência alarmante, afirma o pesquisador.

Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, já havia revelado que 25% do eleitorado brasileiro pode hoje ser considerado "altamente intolerante".

O pesquisador chegou a essa conclusão por meio da aplicação de uma "escala de tolerância" que incluía perguntas como: "O Brasil seria melhor se deputados de extrema direita (ou extrema esquerda) fossem presos?". Ou: "Você toparia participar de um ato de protesto violento para defender seu candidato?". E ainda: "Imagine que você é pai/mãe. Como se sentiria se seu filho (a) se casar com alguém que defende ideias políticas opostas às suas?". À última pergunta 14% dos entrevistados responderam que ficariam "muito incomodados" e 12%, "incomodados".

A altamente disseminada impressão de que a campanha de 2022 corre o risco de ser atravessada por episódios de violência, incluindo os de ordem física, é um dos fatores que têm atrasado o lançamento da campanha de Lula.

Parte da cúpula petista entende que a garantia da segurança física do candidato tem de ser a prioridade zero da campanha; outra parte defende que essa preocupação não pode "afastar Lula das ruas".

Ao pronunciar sua frase infeliz, Lula deu mais que um tiro no pé: deu a senha para justificar a irresponsabilidade dos que não veem a hora de ver o Brasil pegar fogo.