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Bolsonaro está com medo de perder
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Como nem os mais esforçados aduladores presidenciais conseguem sustentar certezas inexistentes o tempo todo, uma hora a realidade se impõe: Jair Bolsonaro está com medo de perder as eleições.
Trata-se de uma possibilidade real e, hoje, a mais provável, conforme indicam inclusive pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto.
Ocorre que, para Bolsonaro, perder as eleições não significa apenas ser obrigado a entregar a faixa presidencial —eventualmente, ao seu pior inimigo. Do ponto de vista pessoal, significa expor-se ao escrutínio da lei em condição muito mais vulnerável.
O presidente é investigado em quatro inquéritos no Supremo Tribunal Federal: por suspeita de interferência na Polícia Federal; pela acusação de atacar as urnas eletrônicas divulgando falsas informações; por supostamente vazar dados de inquérito sigiloso na PF; e divulgar notícia falsa relacionando as vacinas contra covid com a contaminação por HIV.
Caso esses inquéritos sejam concluídos até o final do seu mandato e a Procuradoria-Geral da República oferecer denúncia contra Bolsonaro, duas hipóteses pouco prováveis, eles continuarão seu curso no STF, mediante eventual autorização da Câmara dos Deputados.
Do contrário, se permanecerem em aberto até o fim do ano e Bolsonaro perder a eleição, as investigações contra o ex-capitão poderão seguir no Supremo apenas se houver conexão com outros investigados que detenham foro por prerrogativa de função. Senão, passarão à responsabilidade de instâncias ordinárias da Justiça, dado que a prerrogativa do foro privilegiado só vale enquanto o investigado estiver no poder.
Fica difícil imaginar que situação seria pior para o hipotético ex-presidente: ser processado por uma Corte que ele atacou durante todo o seu mandato ou ir parar nas mãos de aleatórios magistrados de primeira instância sem o manto do poder.
Os sinais de que Bolsonaro começa a ficar tomado pelo medo da derrota, e suas consequências, estão evidentes no seu comportamento público dos últimos dias. Alguns exemplos disso foram o discurso eivado de gritos e palavrões em que jura, "por Deus que está no céu", que não será preso, sem que ninguém tenha lhe dito o contrário; as medidas desesperadas que vem cobrando de assessores para reduzir o preço do diesel, que considera crucial para sua reeleição; e as seguidas tentativas de desacreditar a Justiça Eleitoral — hoje acrescidas da representação por abuso de autoridade contra o futuro presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.
Bolsonaro não possui realizações de governo para apresentar (seu gosto pelo improviso e aversão ao planejamento fizeram com que redundassem em nada mesmo as suas mais singelas promessas de campanha, como a instalação de colégios militares por todo o país); tem a inflação e o desemprego roendo seus calcanhares; e convive com o espectro das mais de 660 mil mortes pela covid que prometem assombrá-lo para valer quando a campanha começar oficialmente.
Bolsonaro tem grandes chances de perder a eleição e está com medo disso. Não deixa de ser uma prova de que a razão não o abandonou de vez.
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