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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Hipótese de calamidade mostra que Bolsonaro entrou em modo desespero

Bolsonaro é observado por Ciro Nogueira em evento no Planalto - Adriano Machado/Reuters - 27.jul.2021
Bolsonaro é observado por Ciro Nogueira em evento no Planalto Imagem: Adriano Machado/Reuters - 27.jul.2021

Colunista do UOL

03/06/2022 10h32

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O governo federal pode decretar estado de calamidade pública, "a depender da situação do país", disse ontem o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em informação que havia sido antecipada na terça-feira pelo Radar das Eleições, do UOL.

A ideia é usar os efeitos da guerra da Ucrânia sobre a economia como argumento para cavar uma brecha legal que permita ao Executivo abrir créditos extraordinários e bancar medidas para diminuir os preços dos combustíveis e seus reflexos sobre a inflação.

A possibilidade de decretar o estado de calamidade pública havia ecoado no governo no início da semana, depois de uma pesquisa do PoderData, divulgada no dia 27 de maio, ter indicado que 42% dos eleitores responsabilizavam pessoalmente Jair Bolsonaro (PL) pela alta da inflação.

Estrategistas de campanha comunicaram ao presidente que essa percepção, ou "realidade política", como diz um deles, poderia fulminar a sua reeleição. (Pela classificação de pesquisas eleitorais do UOL, o PoderData está na categoria dos institutos que "apontam tendências", abaixo dos que mereceram os selos "confiável" e "muito confiável" — o Palácio do Planalto, no entanto, costuma acompanhar com atenção os levantamentos do instituto).

A ideia da decretação do estado de calamidade, porém, foi rechaçada com veemência pelo ministro da economia, Paulo Guedes, o que aprofundou seu choque com o núcleo político do presidente. Integrantes desse núcleo passaram a dizer que a resistência de Guedes de apoiar a adoção de medidas econômicas heterodoxas neste momento acabaria levando à vitória o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No entender de um aliado, Guedes estaria impedindo o presidente de usar "todas as armas que tem à mão" para se reeleger. "José Sarney congelou os preços e FHC congelou o câmbio. Bolsonaro, com a guerra da Ucrânia desestabilizando toda a economia, não pode fazer nada?", perguntou esse aliado.

Até o início desta semana, Bolsonaro mantinha seu apoio a Guedes, e o núcleo político considerava-se parte derrotada no braço-de-ferro com o ministro.

O fato, porém, de Ciro Nogueira ter dito ontem em público o que o ministro da economia já havia declarado rechaçar, indica que algo mudou: o desespero pode ter tomado conta do ex-capitão.