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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Devoção ao mito faz gente como Márcia Tiburi virar bolsonarista de esquerda

O avião que leva Lula ao Egito é um Gulfstream 600                              - Ricardo Stuckert / Divulgação
O avião que leva Lula ao Egito é um Gulfstream 600 Imagem: Ricardo Stuckert / Divulgação

Colunista do UOL

15/11/2022 09h51

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Por alegada impossibilidade de custeio partidário ou público da viagem ao Egito, Lula voou para a COP27 a bordo do jato de um empresário amigo, dono de uma rede de planos de saúde.

Em outras palavras, o presidente eleito está indo para um compromisso público transportado por dinheiro privado. E o dono do dinheiro é também o dono de um negócio cuja regulamentação depende diretamente de decisões do Legislativo e do Executivo.

Foi um mau passo e um péssimo começo de gestão para um presidente eleito com a promessa de oferecer ao país uma nova aurora, e que além do mais foi acusado na hoje malfadada Lava Jato justamente de desprezar a fronteira entre o público e o privado.

Lula pagará um preço político pela decisão e mesmo alguns aliados reconhecem isso.

Outros, como a filósofa Márcia Tiburi, preferem eximir o petista de responsabilidade e jogá-la sobre o ombro alheio.

A filósofa publicou no Twitter a falsa notícia de que o avião que levou Lula ao Egito foi alugado pelo PT —falsa notícia imediatamente desmentida na mesma rede social pela jornalista Mônica Bergamo, autora da reportagem que revelou ser um empresário o proprietário da aeronave usada pelo presidente eleito. Tiburi escreveu ainda que a imprensa "escondeu" o (falso) fato de o partido de Lula ter pago pela viagem.

"Quando a imprensa esconde que o jato que levará Lula foi fretado, está sendo pago pelo PT, a desinformação está sendo cultivada. Isso serve a (sic) cultura do ódio contra o PT, o chamado antipetismo. A imprensa brasileira é de direita e, como tal, tem o espírito do golpismo."

A devoção ao seu mito não apenas impediu Márcia Tiburi de admitir que Lula cometeu um erro como fez com que ela cometesse vários de uma vez.

Ao disseminar fake news, chamar a verdade de "desinformação" e dizer que tudo isso tem o propósito de atacar politicamente o seu grupo (com a ajuda da imprensa, que segundo a filósofa, integra o campo da direita), Márcia Tiburi reproduz a tática dos bolsonaristas — vira uma bolsonarista de esquerda.

Tiburi, como todos os que, nesse episódio, em vez de exercer a crítica preferiram afagar a cabeça de Lula, não tenta defender a verdade, tenta defender a sua turma.

E ao fazê-lo usando das mesmas táticas adotadas pelo grupo que as urnas expulsaram do poder, a filósofa rebaixa o debate e prenuncia a lamentável batalha a que o Brasil deve assistir nos próximos quatro anos.