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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula sinaliza Haddad na Economia e petistas veem falta de "jogo de cintura"

Fernando Haddad: em 2018, Lula jonvidou o ex-prefeito para ser o titular da Economia - Reprodução
Fernando Haddad: em 2018, Lula jonvidou o ex-prefeito para ser o titular da Economia Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

25/11/2022 04h00

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"Quando Lula dá seta para a esquerda é porque vai entrar à direita".

A frase é de um experiente ex-ministro de governos petistas, respondendo sobre a sua aposta quanto à escolha de Lula para o ministério da Economia.

Ao indicar Fernando Haddad para representá-lo no almoço anual da Febraban que acontece hoje em São Paulo, o presidente eleito não apenas sinaliza mais uma vez sua disposição de virar à esquerda como sugere que, de quatro anos para cá, não mudou de ideia quanto ao nome do ministro da economia dos seus sonhos.

Em 2018, antes de ter sua candidatura à presidência da República barrada pela Lei da Ficha Limpa, o petista convidou Fernando Haddad para a pasta, como revelou o próprio em entrevista à Reuters naquele ano.

"Não se sabe disso, mas antes de eu ser convidado para ser vice de Lula, eu fui convidado por ele para ser ministro da Fazenda (...) Ele queria [o empresário] Josué Gomes de vice e eu de ministro da Fazenda", afirmou o ex-prefeito, que de candidato a vice acabou virando o cabeça de chapa na disputa contra Jair Bolsonaro.

Desde a campanha, Lula tem dito que quer colocar na Economia um político com habilidade e suficiente trânsito no Congresso para conduzir uma agenda complexa que priorize o social mantendo a responsabilidade fiscal.

Correligionários de Haddad, porém, não enxergam no ex-prefeito alguém com esse perfil.

Nas palavras de um deles, Haddad "não roda bambolê" — não tem jogo de cintura.

Exemplo prosaico disso, e sempre lembrado por petistas, foi a ocasião em que, prefeito de São Paulo, Haddad explodiu em berros diante de um assistente que entrou em sua sala trazendo galochas, junto com a sugestão de que ele visitasse áreas castigadas pelas chuvas que caíam naquele momento na capital. "Isso é populismo, eu sou muito mais útil aqui!", vociferou o petista, atirando as botas longe.

O presidente de uma grande empresa brasileira guarda uma lembrança igualmente amarga de um jantar que, organizado por empresários em São Paulo durante a campanha, teve a presença de Lula, Haddad e do ex-ministro Aloizio Mercadante.

Durante o encontro, os presentes expressaram sua insatisfação com pontos específicos do plano econômico do petista, que ouvia tudo de cenho franzido. Quando um deles fez menção de criticar a proposta da revogação da reforma trabalhista, foi interrompido por Haddad: "Penso que, se os senhores não estiverem satisfeitos com as ideias do presidente Lula, podem votar no Bolsonaro".

Haddad, dizem petistas, tem horror à ideia de voltar a ser ministro da Educação, e sabe que uma eventual nomeação para o ministério mais importante do novo governo o cacifará para a sucessão de Lula em 2026.

No momento, o pisca alerta do presidente eleito sinaliza para a esquerda — e não entrar à direita pode ser a surpresa que o petista reserva para quem acha que o conhece.