Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Para Lula, Campos Neto, "esse cidadão", já foi "economista competente"
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Durante a campanha eleitoral, Lula sempre se negou a dar detalhes sobre a política econômica que planejava para o caso de vitória.
No palanque, socorria-se à base de generalidades. Diante de grupos menores, valia-se do seu status de ex-presidente para sair-se com uma frase lacônica. "Vocês me conhecem", repetia com ar agastado a empresários e investidores que lhe cobravam definições.
Mas houve momentos em que o então candidato não escapou de respostas objetivas. Em setembro do ano passado, perguntado pelo Jornal do SBT sobre o que pensava da autonomia do Banco Central, respondeu que não tinha nada contra ela: "A mim não causa nenhum problema (o BC) ser independente ou não". Referindo-se ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse achar que era uma pessoa "razoável" e um "economista competente".
Cinco meses se passaram e a autonomia do Banco Central virou "uma bobagem" e seu presidente, "esse cidadão".
Seria injusto acusar o petista de estelionato eleitoral — até porque, mesmo suas declarações menos evasivas sempre vieram acompanhadas de adversativas ("Aceito a independência do Banco Central, mas quero mudanças").
A opacidade com que o PT, em campanha, tratou o que seriam as diretrizes da economia na hipótese de virar governo, no entanto, já produziu a desautorização do titular da Economia, Fernando Haddad, nos primeiros dia de governo —quando Lula, contrariando a convicção pública do ministro, decidiu manter a isenção de impostos federais sobre os combustíveis.
A mesma opacidade está também na origem das disputas internas que, se sempre fizeram parte da tradição petista, desta vez giram em torno de questões fundamentais demais para serem tratadas em público, como a da discussão sobre se é cabível o BNDES de Aloizio Mercadante formular "sugestões" para a criação do novo arcabouço fiscal a ser anunciado pelo governo em abril.
Economistas liberais que não votaram em Lula, ou votaram nele movidos pela repulsa a Jair Bolsonaro, hoje se dividem em dois times: o dos que se dizem surpresos porque esperavam um Lula "pragmático" e o dos que consideram estar vendo agora apenas o Lula "ideológico" que temiam desde sempre.
Na campanha do primeiro turno, a então candidata à Presidência e hoje ministra Simone Tebet (MDB) postou uma mensagem em suas redes sociais criticando Lula por defender o voto útil ao mesmo tempo em que "foge covardemente do debate. Quer um cheque em branco do Brasil", escreveu a emedebista.
De Simone Tebet, assim como do também ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), não se pode dizer que não foram claros sobre as suas convicções econômicas, incluindo a que diz respeito à independência do Banco Central.
Simone era a favor, Ciro, contra.
Já o candidato Lula preferiu proteger-se numa margem cinzenta, da qual o presidente Lula agora se vale para falar ao seu cercadinho. Ocorre que, se a dubiedade funciona no plano retórico, o mesmo não acontece no da ação. De definições como a da meta da inflação e do pacote fiscal de abril o presidente não escapa.
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