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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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"Nós é jeca, mas nós tem dinheiro", diz fazendeira do "agropride"

Roseli Tavares, dona de cinco fazendas em Goiás: por que o agro tem medo de Lula - Keiny Andrade/UOL
Roseli Tavares, dona de cinco fazendas em Goiás: por que o agro tem medo de Lula Imagem: Keiny Andrade/UOL

Colunista do UOL

09/05/2023 10h03

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Esta é parte da versão online da edição PRIME UOL que traz a fazendeira mineira Roseli Tavares, auto-intitulada representante do"agropride"

Herdeira de um dos maiores pecuaristas de Goiás e dona de cinco fazendas de gado no estado, a mineira Roseli Tavares considera-se uma representante do agronegócio que já teve — e deixou para trás— um certo "complexo de botina suja".

Roseli diz que há tempos concluiu que o importante é "ter um cartão de crédito bom".

Ao UOL, a fazendeira de Goiás— estado que tem o segundo maior rebanho bovino do país e é o quarto produtor de grãos— disse o que pensa sobre o gosto dos paulistanos por hotéis fazenda, bolsas Hermès de R$ 50 mil, o PT, os sem-terra e Jair Bolsonaro.

"Não tenho complexo de caipira como muita gente que eu conheço, inclusive minhas irmãs, que até hoje se acham jeca e têm vergonha de entrar nos lugares chiques de São Paulo. Eu chego desbancando.

Mês passado fui naquele Empório Fasano comprar uns vinhos pro meu esposo. Na hora que entrei, a vendedora falou: "Precisando de alguma coisa?". Em vez de ficar complexada com o meu sotaque — o povo pergunta se eu sou parente do Nerson da Capetinga— já fui dizendo: "Sim, tô procurando um presente. Sou de Goiânia, sou pecuarista". Aí, virou o jeito dela me tratar.

Depois que você tem um cartão bom, entra em qualquer lugar no mundo. Vou ter vergonha de vendedora? De garçom? Uai, pera aí, eu tô pagando!

(...)

O CASO DA BOLSA DE R$ 50 MIL

O povo do agro não gosta de gastar.

Eles compram duas Cherokees de uma vez pra variar a cor, mas, quando viajam, acham caro uma garrafa de água mineral e pedem água do filtro.

Eles têm um patrimônio monstruoso e vivem pior do que pobre.

Tem essa fama que a mulher de Goiás gasta, exibe. Eu sei que quem é dona do seu dinheiro não toca fogo nele. As que fazem isso aí é porque o dinheiro é do marido.

Eu gasto consciente.

Outro dia, eu estava em Miami e queria uma bolsa laranja da Hermès. Pra mim, Hermès tem de ser laranja, igual Ferrari tem de ser vermelha. Fui lá, comprei a bolsa, 50 mil.

A hora que eu saí da loja, a minha tia e o meu tio, que é trilhardário, estavam até deprimidos. Olhavam pra mim: "Vai queimar toda a fortuna do pai em bolsa".

Eu tive que falar: 'Tio, eu comprei essa bolsa porque recebi um dinheiro da devolução do imposto de renda, não gastei um centavo de dinheiro de boi."

Aí, ele relaxou.

(...)

GENTE DA FAZENDA QUER VER É GRANITO

Nós, que somos do agro, não achamos graça em hotel fazenda.

Festa de peão de boiadeiro, música sertaneja e hotel fazenda parece que caíram no gosto do povo chique do Rio e de São Paulo.

Mas a gente de fazenda está cansada de ver cara de boi. Quer ver é granito. Quer ir pro Caesar Park, quer ir pra Dubai, esses trem chique.

Simplicidade a gente já tem.

LULA, BOLSONARO E O MST

Essa ideia de que todo fazendeiro é bolsonarista não é bem assim.

Eu não tenho nada contra o Lula nem o Bolsonaro, eu só penso no país.

Mas eu sou do lado que o que é certo é certo.

E o que é errado é errado.

O que roubar eu acho que é o errado.

E tem pessoas que não aceitam que, por causa de uma brecha na lei, o Lula pôde ser candidato.

Isso, pra muita gente, foi um tapa na cara.

Mas o medo que o agro tem de Lula é outro.

(Continua em UOL PRIME, com entrevista em vídeo)