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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Enquanto Congresso pega fogo com MP, Lula discute compra de novo avião

Os presidentes Lula e Gustavo Petro, da Colômbia - Ricardo Stuckert/PR
Os presidentes Lula e Gustavo Petro, da Colômbia Imagem: Ricardo Stuckert/PR

Colunista do UOL

01/06/2023 10h37Atualizada em 02/06/2023 17h55

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Anfitriões do almoço no Comando da Aeronáutica, ao qual o presidente Lula compareceu nas tortuosas horas do começo da tarde de ontem, se surpreenderam com o seu bom humor.

Na verdade, a surpresa começou com a ida do mandatário ao evento. Em meio à mais grave crise entre o governo e o Congresso, Lula preferiu não cancelar o encontro — marcado com antecedência e destinado a tratar sobretudo do interesse do presidente em trocar de avião.

Lula queixa-se da falta de espaço e autonomia dos aviões que servem à Presidência (o A319, vulgo Aerolula, e o A330, que transportou a comitiva presidencial aos Estados Unidos em fevereiro) e havia pedido à Aeronáutica para estudar a compra de uma nova aeronave ou, ao menos, a reconfiguração da A330, de forma a ampliar o quarto do casal e criar para ele um pequeno escritório.

Enquanto, da Câmara, Arthur Lira ameaçava desmontar o governo, Lula era apresentado pelo comandante da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, às alternativas para as suas demandas. Eram quase três da tarde quando o presidente deixou o local, levando debaixo do braço catálogos de aeronaves e o projeto de reforma do A330 para estudar melhor em casa.

Mais cedo, Lula havia recebido no Palácio da Alvorada o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, com quem passou mais de duas horas. O presidente também telefonou para o papa Francisco — que, segundo divulgou a assessoria de comunicação da Presidência, disse na conversa que o petista tem "autoridade para liderar" os esforços pela paz na Ucrânia.

É sintomático que enquanto o céu de Brasília ameaçava despencar sobre a sua cabeça, Lula tenha preferido voltar seu olhar para o mundo.

A crise que o governo viveu ontem, de tão sabida e anunciada, mereceu — de adversários e aliados— diagnóstico quase unânime: desde o segundo mandato de Lula, o Congresso mudou em mais de um aspecto (o semi-presidencialismo se impôs e num cenário de maioria conservadora), o governo não soube lidar com isso (errou na montagem dos ministérios, nomeou articuladores sem autonomia, como Alexandre Padilha, ou francamente rejeitados por seus interlocutores, como Rui Costa, e não entendeu que leões acostumados à carne farta não se contentariam com ração). Em resumo, o PT se elegeu com o discurso da frente ampla mas achou que não precisaria dividir o poder.

Isso tudo foi dito e reverberado nas rodas de poder de Brasília nos últimos meses e chegou ao Planalto na forma de entrevistas, recados de todos os lados e mais de um ensaio de boicote por parte do Congresso.

Por que Lula esperou a fatura dobrar para agir é algo só compreensível quando se tem um presidente com a cabeça em outro mundo — um mundo que não inclui o país que ele governa e cujas questões, comezinhas ou cruciais, parecem apenas enchê-lo de tédio. Entre ser chefe de governo e chefe de estado, está claro o que Lula prefere.

Quanto às preocupações do presidente com as condições em que fará suas novas viagens internacionais, as perspectivas não são animadoras para ele. Durante o almoço da Aeronáutica, Lula foi, com muito jeitinho, informado de que um avião — novo ou reformado de acordo com seus desejos— sairá caro, muito caro.

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A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República enviou ao UOL a seguinte nota:

"A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República informa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu na Aeronáutica, assim como na Marinha e no Exército, nesta quarta-feira (31/5), para discutir assuntos referentes a projetos de cada Força, e da Defesa Nacional.

Não há nenhuma decisão sobre a aquisição de novo avião, nem foi esse o motivo da reunião dele com o Alto Comando da Aeronáutica."