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Operação da PF faz Arthur Lira falar mais fino e Lula viajar assobiando
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Lula embarcou para a Europa assobiando.
A troca da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho, por exemplo, não parecia mais ser uma questão de vida ou morte na abalada relação do governo com o centrão.
Fica para a volta da viagem, avisou o presidente, em ostensiva demonstração de falta de pressa.
Da mesma forma, não se moveu do lugar a cabeça da ministra da Saúde, Nísia Trindade, pretendida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, para entronizar um aliado.
Muito antes pelo contrário: ontem, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, perguntado pela GloboNews se o governo cederia à pressão do centrão para mudar o comando da Saúde, foi categórico. "Não existe nenhuma chance."
Diante da sucessão de incisivas demonstrações de pouco caso do governo para com os pleitos do centrão, quem esperava que o mundo caísse surpreendeu-se com o silêncio de Arthur Lira.
O presidente da Câmara, que até duas semanas atrás ditava recados ameaçadores a Lula em suas entrevistas à imprensa, submergiu e calou-se.
Atende pelo mitológico nome de Hefesto o calmante que domou os modos do chefe do centrão.
A operação da Polícia Federal, batizada em homenagem ao deus do fogo e dos metais, atingiu o ex-chefe de gabinete de Lira, Luciano Cavalcante, suspeito de participar de um esquema de corrupção envolvendo a compra de equipamentos de robótica para escolas de Alagoas, reduto político de Lira.
O presidente da Câmara foi avisado de que, no saldo das investigações e operações de busca na casa de Cavalcante, a PF capturou um colossal acervo de mensagens e gravações, a maior parte das quais ainda não veio a público.
Há dez dias, alvos da Hefesto tentaram puxar o caso para o Supremo, mas a manobra deu errado, já que o processo caiu com ministro Luís Roberto Barroso, avesso a intimidades com grupos políticos.
Diante disso, o sempre prestimoso procurador-geral da República, Augusto Aras, foi acionado. No fim de semana passado, atendendo "a pedido da Mesa Diretora da Câmara" — cujo presidente é Arthur Lira—, Aras pediu ao STF a suspensão da Hefesto até que o Supremo julgue a competência do caso. A esperança de Lira é de que o processo suba para o STF e fique aos cuidados de outro relator que não Barroso.
O presidente da Câmara sabe que, embora todos os homens sejam iguais perante a lei, os inimigos do rei podem ser menos iguais que os outros, ainda mais quando se trata de antigos fregueses da Justiça, caso do parlamentar.
Nesse caso, uma má relação com o presidente Lula pode ser péssimo para o presidente da Câmara. Até outubro, Lula terá feito dois ministros no STF, e pode nomear ainda um terceiro, caso Barroso confirme a sua saída precoce. O presidente tem ainda três anos e meio no Planalto e a possibilidade legal de se reeleger.
Já Arthur Lira caminha para o ocaso do poder.
Seu mandato expira em um ano e meio e ele não pode se recandidatar ao posto.
Sem acumular forças — na forma de um sucessor ou de um ministro poderoso, por exemplo— corre o risco de ficar ao relento, como seu antecessor, Rodrigo Maia. Ou de ter destino pior, como seu também antecessor Eduardo Cunha.
No confronto entre um presidente da Câmara e um presidente da República, a fragilidade de um é a força do outro.
Agora é a vez de Arthur Lira falar fino.
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