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Thiago Herdy

REPORTAGEM

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O dia em que dom Cláudio trabalhou para Francisco ser o papa

O cardeal brasileiro dom Claudio Hummes chega para reunião para escolher o novo papa, em 2013 - Lalo de Almeida/Folhapress
O cardeal brasileiro dom Claudio Hummes chega para reunião para escolher o novo papa, em 2013 Imagem: Lalo de Almeida/Folhapress

Colunista do UOL

04/07/2022 17h45

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Diante da morte do frade franciscano e arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes, aos 87 anos, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, pediu hoje aos fiéis que agradeçam pela vida do cardeal Hummes em oração.

Hummes lutava contra um câncer de pulmão e terá o corpo velado na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em cerimônia que certamente contará com a presença de Scherer.

Em diferentes fases da vida, ambos exerceram papéis relevantes na arquidiocese da maior cidade brasileira, assim como assumiram funções importantes na estrutura do Vaticano.

Mas olhavam de um jeito diferente um do outro para a vida política do país e os possíveis caminhos a serem percorridos por uma liderança da religião católica no Brasil.

Dom Cláudio acompanhou de perto o movimento operário no Brasil no fim dos anos 70 e subiu no palanque para apoiar a greve dos metalúrgicos que impulsionou a trajetória de Lula como líder político. Até o fim da vida, foi defensor ardoroso da causa indígena.

Scherer sempre foi tido como cardeal mais próximo de uma linha conservadora dentro da igreja. Crítico da Teologia da Libertação, caminha distante de um olhar mais à esquerda para o mundo, com notas firmes na crítica à união de pessoas de mesmo sexo, pesquisas com células-tronco e em defesa da preservação do celibato.

Para quem era próximo de Dom Cláudio, são as diferenças de visão de mundo que o levaram a atuar em 2013 a favor da eleição do jesuíta argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, para que ele se tornasse liderança maior da igreja católica.

Dom Odilo Scherer era um dos favoritos a virar novo papa. Em tese, era de se esperar um brasileiro como primeiro aliado de outro brasileiro na tentativa de ser o primeiro papa latinoamericano da história.

Mas Bergoglio era um homem mais alinhado à visão de mundo de dom Cláudio. Compartilhava percepções semelhantes sobre os caminhos que a igreja precisava adotar dali em diante.

A eleição de um papa argentino é motivo de brincadeiras do próprio pontífice, que rememora a rivalidade histórica entre Maradona e Pelé.

Na eleição de Francisco, foi como se Didi tivesse dado o passe para um gol de Maradona, em vez de um gol de Pelé.