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Valmir Salaro

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Reportagem

Jogo do Tigrinho: Influencer perde perfil, dribla Justiça e pode ser presa

Pelo nome verdadeiro de Juliana Valeria da Silva, poucos sabem quem é. Mas ela tem milhões de seguidores, principalmente no Instagram.

Conhecida como Juju Ferrari, a "criadora de conteúdo digital" — como se apresenta — passou a ser uma das maiores "vendedoras eletrônicas" do Brasil.

Juju chamou a atenção de policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) que investigam jogos de azar nos meios digitais.

Ela é alvo da Polícia Civil de São Paulo desde o ano passado. Na ocasião, assim como uma dezena de outros influencers — também seguidos por milhões de pessoas —, passou a ser considerada suspeita em um "negócio" milionário: a divulgação de cassinos online, como o Jogo do Tigrinho.

Juju alegou que não sabia que jogo era ilegal, diz delegado

Juju Ferrari tinha 12,6 milhões de seguidores em perfil bloqueado pela Justiça
Juju Ferrari tinha 12,6 milhões de seguidores em perfil bloqueado pela Justiça Imagem: Reprodução/Instagram

A investigação identificou que Juju e os outros usavam seus perfis para fazer uma ponte entre apostadores e plataformas que exploram jogos, escondidas em paraísos fiscais.

A influencer relatou ao delegado Eduardo Simões Miraldi, que comanda uma caça aos envolvidos com esse tipo de jogo, que ganhava mais de R$ 100 mil por mês com o Instagram.

O faturamento de vendas de produtos garantia parte desse dinheiro, mas os maiores valores vinham da propaganda que ela fazia (e ainda faz) de cassinos online.

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Segundo o delegado, na época, ela disse que não sabia que o Jogo do Tigrinho era um jogo de azar proibido por lei.

A investigação mostrou que os influencers enganavam os apostadores dizendo que eles mesmos já haviam ganhado "fortunas" com os jogos. E faziam questão de mostrar nas redes sociais seus ganhos com um simples toque no celular.

Influencer continuou postando mesmo após 'bronca'

O delegado afirma que Juju, mesmo investigada e alertada sobre a contravenção penal (o jogo de azar), continuou fazendo parte da "máfia da jogatina eletrônica".

"Ela teve seu perfil fechado, mas convenceu o juiz que tinha que continuar no Instagram porque era seu meio de ganhar a vida e sustentar a família", disse Miraldi.

A influencer teve a conta na rede social reativada, mas com o alerta de não fazer mais propaganda dos jogos.

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Porém, Juju desobedeceu ordem da Justiça e continuou faturando muito dinheiro em cima de milhares de vítimas que apostam compulsivamente, o que resultou no bloqueio do perfil.

Jeitinho para 'driblar' bloqueio

Juju Ferrari segue divulgando jogos de azar em novo perfil no Instagram
Juju Ferrari segue divulgando jogos de azar em novo perfil no Instagram Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo o delegado, a influencer usou um artifício para "driblar" a Justiça e a polícia, usando outro perfil após o oficial (@juujuferrari) ter sido fechado. Na conta, que já tem 2,5 milhões de seguidores, ela fez uma pequena alteração (@jujuferrarioficiaal) e continuou usando o nome fantasia "Juju Ferrari".

Na página, ela segue publicando conteúdos de cassinos online.

Em um primeiro momento, a Justiça determinou que a Meta (dona do Instagram) tirasse do ar os perfis reincidentes, como o caso de Juju. Mas, segundo o delegado, o processo até a conta ser bloqueada pode ser bastante lento.

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"A gente tem o conhecimento, sim, de que ela voltou a fazer a divulgação do jogo. Tanto é que nós já pedimos novamente o bloqueio do perfil dela. Essa solicitação foi deferida. Porém, pelo perfil dela que vi agora, ainda não foi cumprida essa decisão. O perfil dela está no ar e já tem quase um mês que foi deferido. Mas às vezes a Meta demora um pouco mesmo para cumprir", destacou.

Questionada pela coluna, a Meta disse que não vai comentar o assunto.

Jogo de azar, associação criminosa e lavagem de dinheiro

A polícia, que tenta fechar o cerco contra ela e outros influencers, também pediu a quebra do sigilo fiscal e telefônico de todos os envolvidos. No entanto, a solicitação foi negada pela Justiça.

Cassinos online: inquérito envolvendo Juju Ferrari e outros influencers indica jogo de azar, associação criminosa e lavagem de dinheiro
Cassinos online: inquérito envolvendo Juju Ferrari e outros influencers indica jogo de azar, associação criminosa e lavagem de dinheiro Imagem: Reprodução/Instagram

O inquérito, instaurado em abril, indica jogo de azar, associação criminosa e lavagem de dinheiro. "Agora, a gente está dependendo dessas outras questões para poder imputar outros crimes a ela, no caso, lavagem de dinheiro. Mas, para isso, eu preciso da quebra do sigilo bancário. (...) O Jogo do Tigrinho, na verdade, é uma contravenção penal. Mas, por trás disso tudo, existe uma associação criminosa. Ou seja, para esse Jogo do Tigrinho operar, ele está em várias plataformas de jogos. Tudo quanto é plataforma que explora jogo. Ela põe o jogo do Tigrinho, como põe o jogo do aviãozinho, tem vários", explicou o delegado.

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O caso está nas mãos de promotores do Ministério Público. Para Miraldi, agilizar esse andamento é fundamental para que outras medidas sejam tomadas, como um eventual pedido de prisão. "Se ficar comprovado que há uma associação criminosa, cabe a prisão, sim. Mas a gente precisa dessas outras medidas todas aí para a gente chegar nesse ponto", ressaltou.

À coluna, o Ministério Público informou que o caso foi designado para a 3ª Vara Criminal. A promotora responsável disse vai avaliar o material enviado pela polícia e deve pedir mais detalhes à investigação ao longo do processo.

Juju: 'Tive que continuar fazendo os posts'

Ao UOL, a influencer afirmou que o perfil @juujuferrari está bloqueado apenas no Brasil. "Meu perfil oficial está ativo para fora do país, porém está com essa restrição judicial dentro do país referente à divulgação de casa de jogos [Blaze]".

Ela diz que colaborou com a investigação e destacou que o nome dela já havia sido excluído do inquérito. "Dentro do processo da Blaze, houve uma reabertura do inquérito onde já tinha sido encerrada a minha participação, onde já foi feita toda a investigação, onde eu já colaborei com as autoridades, já fiz todo o meu depoimento".

Juju acrescenta que "eles resolveram reabrir sem motivo". "Já foi feita toda a avaliação, viram já que eu não tenho nenhum tipo de problema nas minhas contas, nenhum tipo de problema com ligação com ilegalidade, com lavagem de dinheiro, etc. Porém, reabriram. Caiu com uma juíza que não tinha conhecimento do caso e preferiu dar o bloqueio sem estar a par de tudo o que estava acontecendo no processo".

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Segundo ela, a Blaze, com quem ela tinha contrato de divulgação, "não deu o suporte esperado". "Acho que fui a primeira a sair do ar, fiquei sabendo até pelas mídias sociais, e eles não deram suporte com advogados, com equipe jurídica, eles não deram suporte financeiro, onde eu tive que continuar fazendo os posts, senão eu não receberia o meu valor".

Eu tive que arcar com custos de advogado, eu tive um mandado de prisão preventiva, se eu tivesse algum descumprimento. E se eu não fizesse as postagens, eu não receberia.
Juju Ferrari

Quando descobriu que era alvo de investigação, a influencer diz que decidiu romper com a contratante. "Eu achei que tudo isso tivesse acabado, porque eu acabei saindo da Blaze, mesmo o contrato dizendo que teria uma multa, etc. Eu resolvi sair para evitar esse tipo de problemas".

Só que mesmo eu saindo, eu entro novamente por causa da Blaze. O que mais me indigna é que a Blaze continua no ar, as pessoas que divulgam continuam no ar. (...) Tenho 4 filhos, todos menores de idade que dependem de mim, a minha vida tem um custo, e minha renda praticamente toda hoje em dia é através da minha rede social.
Juju Ferrari

A influencer admite que segue divulgando jogos no novo perfil. "Eu estava com outra casa de jogos já, até no perfil oficial. Como o inquérito é da Blaze, então, eu já até meio que encerrei esse meu contrato com essa outra casa de jogos. Porque isso daí também me prejudica por causa da mídia. A mídia que sai sobre outras casas de jogos, que em breve estarão legalizadas, não é uma mídia positiva".

Então, enfim, resumidamente é isso daí, eu acho que falta das casas de jogos e da Blaze em especial, porque é o meu caso, esse suporte aí. Essa atenção com os influencers. Porque eles dependem da influência para estar fazendo a casa deles funcionar. Então, eu acho que fica meio de alerta também para os outros influencers e, assim, o que eu puder fazer para trazer a verdade aí para a galera, vai ser feito.
Juju Ferrari

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Questionada pela coluna sobre as declarações e o inquérito, a Blaze diz que "atua de acordo com padrões internacionais dos mercados em que opera e tem cumprido todas as exigências e prazos para obter licenças de operação no Brasil, conforme a regulamentação do setor avança no país. A empresa reitera que segue as diretrizes de publicidade locais e respeita os acordos firmados com seus parceiros e fornecedores".

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