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Vicente Toledo

Criatividade espanta o fantasma da covid-19 no Halloween dos Estados Unidos

Colunista do UOL

26/09/2020 16h15

Uma das datas mais aguardadas do calendário norte-americano, o Halloween se aproxima assombrado pelo fantasma da covid-19. Faltando pouco mais de um mês para a festa, famílias em todo o país vivem o mesmo dilema: como impedir, com segurança, que a pandemia estrague a festa?

"Acho que todos estamos precisando de algo normal em 2020. Comemorar o Halloween com segurança será importante para sentirmos que há alguma coisa ainda sob controle", diz Brittany Dutra, residente de Nevada, em entrevista à rede pública de rádio NPR.

Abóboras de Halloween - Bekir Dönmez/Unsplash - Bekir Dönmez/Unsplash
Estados Unidos se preparam para o Halloween em meio à pandemia do coronavírus
Imagem: Bekir Dönmez/Unsplash

As festividades começam bem antes do 31 de outubro. É praticamente um mês inteiro de labirintos em milharais, colheita e decoração de abóboras, escolha e preparação de fantasias, culminando com o famoso trick-or-treating (doces ou travessuras) e as festas à fantasia na noite do Halloween.

"O tradicional trick-or-treating de casa em casa não parece ser uma escolha inteligente este ano", diz Laura Stoutingburg ao jornal The Denver Post. "Não estou tão preocupada com as crianças andando na rua, mas sim com elas dando e recebendo doces", relata Lisa Halverson, moradora de Utah.

As autoridades de saúde concordam. A recomendação do Centro de Controle de Doenças (CDC) é para que as famílias evitem que crianças e adolescentes fantasiados percorram as vizinhanças tocando campainhas e pedindo doces.

"O Halloween é um feriado que une toda a comunidade. Nessa data todos recebem meus filhos com carinho, distribuem doces e elogiam suas fantasias. Será que vamos perder até isso?", pergunta Lisa Halverson.

Criatividade redobrada contra o "fantasma" da contaminação

Divididos entre o risco de contaminação pelo coronavírus e a ânsia por um fio de normalidade em meio ao caos da pandemia, muitos pais tiveram que redobrar a criatividade em 2020, indo muito além das fantasias assustadoras e decorações elaboradas.

Algumas ideias já viraram sucesso nas redes sociais, como o "escorregador de doces" e o "fantasma do varal", soluções inteligentes para garantir a distribuição de guloseimas mantendo o distanciamento social.

Há também alternativas mais simples, como preparar sacolas individuais de guloseimas e deixá-las em frente às casas, a uma distância segura. Outra ideia adaptada à pandemia é o chamado ghosting: deixar uma surpresa na porta das casas, de preferência sem ser visto, com um desafio para passar a brincadeira adiante.

Mesmo quem optar por medidas de distanciamento não pode esquecer da mais importante recomendação para evitar a transmissão do coronavírus: lavar as mãos antes e depois de manusear doces, sacolas e surpresas.

Aaron Milston, epidemiologista da Universidade John Hopkins, em Baltimore, diz não estar tão preocupado com a transmissão do coronavírus pelas embalagens. "Mas não deixe seus filhos comerem doces com as mãos sujas", alerta. Ou seja, comer só depois de chegar em casa e lavar as mãos.

Já o pediatra Alok Patel, apresentador do programa "Parentalogic", do canal PBS, lembra que todos devem usar máscaras. E se alguém estiver distribuindo doces sem máscara, ele recomenda que as crianças digam "Feliz Dia das Bruxas" e pulem para a próxima casa.

Outro alerta importante: as máscaras das fantasias não substituem as feitas de pano recomendadas pelos especialistas. A pediatra Heather Isaacson, da UCHealth, no Colorado, tem uma sugestão criativa: "decorem as máscaras de pano e as incorporem às fantasias".

Grupos de risco: desfile de fantasias, filmes de terror e caça ao tesouro

Enquanto algumas famílias ainda planejam maneiras seguras para participarem do trick-or-treating, muitos já decidiram evitar riscos e comemorar dentro de casa.

"Nós deixamos nossa filha escolher três fantasias diferentes", revela Brittany Dutra, que aposta em um desfile para compensar a mudança drástica na tradição.

Portadora de uma rara doença genética, Jody Allard e seus sete filhos não sairão às ruas em Seattle. "Vamos preparar comidas engraçadas que vimos na TV e assistir a filmes de terror", conta.

"Vou esconder chocolate no jardim para os pequenos. Depois que eles forem dormir, os mais velhos farão uma caça ao tesouro no quintal usando lanternas", diz Maya Brown-Zimmerman, de Cleveland.

Festas à fantasia, álcool e "pegadinhas" na mira das autoridades

Entre os adultos, as elaboradas festas à fantasia estão na mira das autoridades de saúde. Segundo o CDC, reuniões em ambientes fechados, como "mansões mal-assombradas" devem ser evitadas.

Além disso, o uso de álcool e drogas pode aumentar a ocorrência de comportamentos de risco. Gritos e "pegadinhas" assustadoras também são desencorajados.

Em Los Angeles, festas e desfiles foram cancelados. Em Nova Iorque, a tradicional parada de Greenwich Village, que atrai anualmente mais de 50 mil pessoas, também não vai acontecer.