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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

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Macron, Berlusconi e direita radical acendem polêmicas de olho em eleições

O ex-premiê da Itália Silvio Berlusconi - Tiziana Fabi/AFP
O ex-premiê da Itália Silvio Berlusconi Imagem: Tiziana Fabi/AFP

Colunista do UOL

06/01/2022 17h59Atualizada em 06/01/2022 18h27

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Na Europa, a França e Itália estão agitadas em razão das eleições presidenciais.

Emmanuel Macron quer se reeleger presidente da França. Ao contrário e na Itália, o presidente Sergio Matarella, um jurista de respeito, acha inconstitucional a reeleição.

Matarella avisou que a reeleição só encontra legitimidade em situação excepcional e lembra a recondução de Giorgio Napolitano. De se frisar ter Napolitano, no curso do segundo mandato, renunciado quando voltou a situação de normalidade político-institucional.

Para se ter ideia, o siciliano Matarella alugou um pequeno apartamento em Roma para se mudar ao término do seu mandato, em fevereiro. Ele, - um viúvo com irmão governador morto pela Cosa Nostra siciliana-, ocupa a residência oficial, no palazzo Quirinale.

Uma verdade de manual básico de ciência política: o clima eleitoral, em qualquer país democrático, é propício às polêmicas.

A direita radical francesa, com a eterna candidata Marine Le Pen (Frente Nacional), entra em todas as brigas.

Desta vez, os radicais de direita dizem que impedirão Macron de manter hasteado o pavilhão estrelado da União Europeia no Arco do Triunfo. Falam em conspurcação da nação francesa. Macron responde tratar-se de resistência aos contrários à manutenção da União Europeia.

Por seu turno, parte da dividida direita italiana aproveita a "tirada do time de Matarella" —que seria reeleito pelo Parlamento italiano com os "pés nas costas"—, para lançar o nome de Silvio Berlusconi. A propósito, o próprio Berlusconi, por mandar no partido Forza Itália, é que pressiona e se lançou, sem corar a face.

Cuida-se de um Berlusconi definitivamente condenado pela Justiça e conhecido internacionalmente pelo escândalo do "Bunga-Bunga". Berlusconi, que perdeu o título honroso de "cavaliere" pela condenação criminal, é tratado pelas mulheres italianas como o "gran-maiale" (grande porco). As mais retraídas e direitista usam o eufemiso "donnaiolo" (mulherengo).

Em francês e em italiano, gritam os muros dos palácios ter tudo motivação política.

Pois bem. Macron, depois de 13 anos, será o presidente de turno do Conselho da Europa. Por isso, além de iluminar a Torre Eifel e o Palácio Eliseo, quer manter hasteada a bandeira da União Europeia no Arco do Triunfo, onde estão os espólios dos soldados desconhecidos, combatentes, e os que retomaram Vichy.

O último presidente francês que assumiu o conselho europeu foi o polêmico Nicholas Sarkozy. Macron vai aproveitar a ocasião honrosa de presidir o Conselho europeu para iniciar a campanha à sua candidatura à reeleição.

A iniciativa de Macron é vista pelos radicais de direita como oportunidade para desprestigiá-lo. Já acenam aos violentos integrantes dos apelidados "coletes amarelos". Em ocasião de greve, os "coletes amarelos" chegaram ao absurdo de pichar o simbólico Arco do Trinfo, ou seja, a própria direita maculou o altar da pátria e agora reclama de Macron. E os radicais avisam a Macron: "A Europa não é uma nação".

Todos sabem que a União Europeia, nascida com o Tratado de Masstricht, é de união de estados nacionais, e não nação única.

Os radicais franceses e os italianos do partido da Liga Norte, à frente outro neofascista de nome Matteo Salvini (recebeu e acompanhou Bolsonaro na visita à Itália), são contra a União Europeia. Querem a sua extinção e elegem eurodeputados para minar o Parlamento europeu. Outro ponto comum, os radicais italianos e franceses são pelo fechamento de fronteiras, a evitar os migrantes.

Macron justifica o seu ato como a marcar a importância da França. Topou a polêmica e vai para a briga política. Quer faturar para a sua reeleição.

Na Itália, o primeiro-ministro Mario Draghi é o nome mais forte para deixar o Palazzo Ghigi (sede do Conselho de Ministros) e se instalar —uma vez eleito pelo Parlamento (Câmara e Senado)—, no Palazzo Qurinale (sede e residência da Presidência da República).

Como o primeiro-ministro Draghi acaba de adotar uma polêmica medida sanitária —até agora única no planeta—, ninguém sabe mais se manterá prestígio e consequente força para se eleger presidente da República Ontem, e para valer a partir de fevereiro, os italianos e residentes acima de 50 anos de idade terão de se vacinar, sob risco de perda do emprego.

As autoridades sanitárias italianas entendem os acima dos 50 anos como vulneráveis e os que mais, pela não-imunização, ocupam os leitos hospitalares e as UTIs.

Enfim, caso Draghi enfraqueça, o atual presidente Matarella poderá ser convencido a reconsiderar a sua posição e, pela situação excepcional, aceitar um segundo mandato.

Outra questão agitada na Itália parte das mulheres. Com razão, dizem ser o momento para a República da Itália ter a sua primeira presidente (lá não tem a variação presidenta).

Num pano rápido, as batalhas eleitorais começaram na Itália e na França.