Wálter Maierovitch

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Opinião

E agora, Bibi Netanyahu? Suspense: como será o amanhã?

"Questão encerrada". Essa resposta do governo dos aiatolás dá um falso alívio.

Não é bem assim.

Internacionalmente, existe um suspense no ar.

No momento e na ribalta, está o sanguinário Benjamin Netanyahu, que, como advertiu o jurista Reuven Rivlin, ex-presidente de Israel, só se mantém no poder pela absoluta falta de "leadership" (liderança) na vida política israelense.

No particular, Rivlin, do alto dos seus 85 anos de idade, apoiou-se no saudoso escritor, professor e pacifista judeu Amos Oz (adotou o pseudônimo Oz, que significa "coragem").

Sem um líder pacifista como chefe de governo há risco, ensinava Amos Oz. Isso inclusive se extrai da entrevista dada, em 2007, no Roda Viva, da TV Cultura.

Então é balela, frisou Rivlin, sustentar que Israel não troca de governo enquanto a guerra não termina: falta "leadership".

Numa ironia, observou Rivlin, com referência velada a Bibi Netanyahu, ele não pode ser comparado a Moisés, justamente por falta de liderança. Mas se assemelha ao casal bíblico Acab (ex-rei de Israel) e Jezebel, ambos de péssima fama na memória dos hebreus.

Outro ponto. Todos nós, habitantes deste planeta Terra, já sentimos o temor decorrente de futura escalada bélica, com o conflito Hamas-Israel podendo se tornar regional e progredir para mundial.

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Nada está encerrado com a resposta iraniana. Até porque o Irã não irá parar de apoiar e armar o terrorismo. E, pela sua rede de contrabando, fornecer armas e insuflar os palestinos da Cisjordânia, que vivem, pelo direito internacional público, em regime de "apartheid". Isso ocorre quando leis diferentes, desiguais, num mesmo espaço territorial, regem povos etnicamente diversos.

O governo dos aiatolás elaborou uma declaração unilateral e não poderá ficar limitada aos dois irresponsáveis e ilegais eventos acontecidos:

1. ataque de forças de Israel na Síria, em 1º de abril, em espaço diplomático soberano do Irã, com mortes como a do general Aeza Zahedi
2. primeiro ataque histórico do Irã contra Israel, mais de 300 artefatos disparados, entre drones de mísseis de cruzeiro e balísticos.

Novo gabinete de guerra

Depois do ataque iraniano, comenta-se que Israel está trocando seu gabinete de guerra, órgão de consulta e apoio ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, apelidado Bibi.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, permanecerá na função, o que já é causa justa para preocupações internacionais.

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Como está a cabeça de Gallant e como estão os seus pensamentos sobre o Irã?

Para Gallant, e isso é sabido, o Irã dá sustentação econômica e militar ao Hamas.

Com base nisso, ele criou a imagem do polvo para sustentar uma resposta de Israel.

Para Gallant, o polvo é o Irã, e o governo teocrático dos aiatolás usa o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina como tentáculos da sua vontade de apagar Israel do mapa.

O Irã, na visão de Gallant, que no particular é a mesma de Bibi Netanyahu, sustenta o terrorismo no Oriente Médio. O último tentáculo exibido do polvo está no Iêmen, no grupo houthis.

O polvo é a versão ampliada por Gallant da serpente referida por Bibi Netanyahu. O premiê israelense fala sempre em esmagar a cabeça da serpente, ou seja, o Hamas e a sua cúpula de governo. Tudo com destaque para Yahya Sinwar, idealizador dos ataques terrorista de 7 de outubro e chefão militar dos combatentes em Gaza.

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Sinwar é o autor da ideia dos túneis, cuja construção e gerenciamento ficaram a cargo do seu irmão.

O novo gabinete de guerra poderá abraçar a doutrina que acaba de ser exposta por Naftali Bennet, ex-primeiro-ministro e ex-ministro da Defesa.

Bennet diverge do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e dos que consideram ter havido vitória de Israel contra o Irã.

Segundo Bennet, não houve vitória, mas sucesso na ação defensiva, mesmo que sete drones com carga explosiva tenham furado a rede protetiva e causado ferimentos em uma menina árabe-israelense. Um informe do exército de Israel (IDF) informa o abatimento de 99% dos drones e mísseis.

O ex-primeiro-ministro Bennet vai mais longe: a intenção não era só atacar o Estado de Israel, mas matar os israelenses, dado o potencial dos meios empregados.

A respeito da mencionada produção de matança, e sem apresentar provas, Gallant disse não afastar a existência, nas testadas, de componentes atômicos misturados aos explosivos.

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Bibi Netanyahu já adiantou a sua posição: "não decidimos como nem quando, mas vamos parar o Irã".

Biden preocupado

Internacionalmente, Biden coloca a boca no trombone. Não para de dizer que não apoiará Israel num ataque contra o Irã.

Biden não esconde o tamanho da sua indignação com Bibi Netanyahu, que desprezou a manifestação do presidente norte-americano. Biden disse: "condenamos com firmeza [os ataques do Irã], demos plena sustentação à defesa de Israel e pedimos moderação das partes". E acrescentou que não irá apoiar "represália" ao Irã.

No gabinete de guerra, antes da mudança, Bibi Netanyahu tinha a oposição de Benny Gantz, uma voz de respeito nos EUA.

Gantz trombou com Netanyahu ao sustentar que Israel deve ir às urnas na próxima estação deste ano. No momento, Gantz é contra uma resposta ao Irã e chama a atenção de Bibi para a meta de libertação dos reféns em posse do Hamas: a libertação ficaria prejudicada com um confronto com o Irã.

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Onde mora o perigo

Cabeças doentes ocupam o atual cenário de suspense e causam temores: Benjamin Netanyahu e Ali Khamenei.

O celerado e sanguinário Bibi Netanyahu quer a guerra contra o Irã e finge que Israel não tem culpa nenhuma pelas recentes agressões impostas em 1º de abril.

Ou seja, Bibi Netanyahu fez tábula rasa às ofensas, à luz do direito internacional, às soberanias da Síria (espaço aéreo invadido) e do Irã, pois a embaixada (e o consulado alvejado em Damasco, juridicamente, representa um apêndice dela) é considerado território do país hospedado. No caso, duas ofensas por parte de Israel.

Por seu turno, o Irã não agiu em situação de legítima defesa, pois não houve revide em tempo justo. E lançar centenas de armas, usando a mesma tática que a Rússia empregou na Ucrânia (concentração de drones e mísseis), teve por meta uma matança, algo desproporcional, ilegítimo e desumano.

Num pano rápido, de um lado, o cinismo do aiatolá promove, por procuração, o terror contra Israel, a quem se continua a chamar de "Pequeno Satã". Do outro, o celerado Bibi Netanyahu causa a difusão internacional do antissemitismo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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