Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
O câncer de Putin e o novo decreto a emparedar a União Europeia
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Durante todo o ano de 2021 - por ordem de Putin mascarada por ato do Ministério Público-, o jornal russo independente Prodekt não pôde circular.
Com espaço de divulgação obtido na agência russa Agentsvo, jornalistas do Prodekt publicaram um trabalho de jornalismo investigativo, dado como "bombástico".
Durante longos meses, eles ouviram médicos que acompanharam Putin em viagens, escutaram testemunhas e analisaram as aparições públicas de Putin, com cotejos de imagens.
Conclusão da investigação: "Putin têm câncer na glândula tiroide".
Tiroide, ou tireoide, é aquela glândula que tem o formato de borboleta e pousa, nos nossos corpos, abaixo do pomo de Adão, conhecido popularmente por gogó.
O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, desmentiu, e o Pravda, diário oficial, fez breve menção ao desmentido.
Verdade ou mentira?
Os jornalistas dizem que sim e informam fazer parte atual da equipe de médicos de acompanhamento de Putin um famoso cirurgião especialista em câncer de tiroide.
Os referidos jornalistas lembram, também, ter o Kremlin sempre desmentido notícias negativas sobre o estado de saúde de Putin.
Por exemplo, citam os jornalistas do Proekt antiga queda de cavalo, com séria lesão na coluna vertebral de Putin.
Segundo os jornalistas, só numa das mansões de campo de Putin, a datcha de Sochi, o presidente recebeu 35 visitas de oncologistas.
Pelo atrito com Putin e o fechamento do jornal, os autores da matéria podem ter montado uma vingança. Para usar uma linguagem da moda, uma "fake news".
Mas, real ou irreal, fato ou "fake", a notícia do câncer repercutiu nos principais jornais europeus, num momento em que Putin, à luz do xadrez geopolítico, acaba de baixar decreto visto pela União Europeia como provocativo, aparentemente, de imediata vigência.
O decreto publicado hoje - assinado por Putin em 1º de abril -, estabelece o pagamento em rublos dos contratos europeus de compra de gás da Gasprom. Abre exceção.
Exceção ao prever uma Comissão especial para avaliar, em dez dias, os países "não hostis". Estes, pelo decreto, terão abastecimento garantido pela Gazprom e pagarão na moeda prevista nos contratos: euro ou dólar.
Pelo jeito, os hostis terão o fornecimento suspenso, até mudarem suas posições com relação à guerra na Ucrânia. Como a Gazprom precisa vender, os hostis, projeta-se, vão continuar a receber, com pagamentos em rublos.
Numa jogada de marketing interno, Putin apareceu ontem na televisão russa para falar do decreto e como serão os pagamentos em rublos.
Para Putin, é tudo muito fácil. Basta abrir uma conta-corrente bancária em rublos para pagamentos à fornecedora Gazprom.
Analistas europeus falam, e o termo é pesado, em coação contra a União Europeia (UE). Uma UE em grande parte dependente do gás russo. Muitos, como a Itália com 40% de dependência ao gás russo, sem possibilidade de contar de imediato com outras fontes.
Na última quinta-feira, a RAI italiana mostrou uma matéria jornalística dramática. Foi no programa Carta Bianca, conduzido pela jornalista Bianca Berlinguer, filha do saudoso e respeitado líder Enrico Berlinguer.
A matéria, repetida pela RAI-Internacional, mostrava empresas italianas abarrotadas de produtos destinados à Rússia.
Por exemplo, milhares de sapatos e de garrafas do vinho espumante Lambrusco.
Os exportadores italianos suspenderam as entregas. Os bancos russos estão fora do sistema Swift de compensações. Fora isso, os importadores russos só podem, por ato de Putin, pagar em rublos e não em euros ou dólares.
Em tempo de guerra pouco adianta invocar o direito internacional - quer público, quer privado- e o princípio da "pacta sunt servanda", do cumprimento dos contratos. Todos os contratos com a Gazprom estabelecem pagamento em euro ou dólar.
Pano rápido. Como certamente diria Sun Tzu — conhecido estrategista militar do ano 4 aC e autor da obra 'A Arte da Guerra'—, guerra é guerra e se lixe o princípio latino do 'pacta sunt servanda'.
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